DO NADA

Tem dias em que estamos inspirados, animadinhos, idéias brotam na cabeça. Em outros, essa mesma cabeça fica completamente oca. Pensamentos vêm e vão, nada que mereça uma crônica. Às vezes até merecem, a gente é que não consegue desenvolver assunto nenhum. E aí é que dá vontade de escrever... Interessante é que o contrário também acontece: temos a idéia e o texto não passa de duas linhas... Bem, estou generalizando injustamente, este é um problema meu.

Não tenho mais nada que se assemelhe a aparelho de som no carro. Depois que entortaram a porta, quebraram a fechadura e estragaram a pintura só para roubar o radinho, desisti. Além do aborrecimento e das despesas, ainda tive outro azar enquanto ele estava na oficina. Fui com o carro do meu marido fazer uma visita. De repente, ouvimos uma gritaria “pega ladrão!”. Ai, meu Deus, levaram o carro, pensei. Corremos para a rua. Não levaram, ele estava lá. Ufa! Mas sabem como? Com a porta entortada, sem o radinho, sem toca-fitas... Imaginem a minha cara ao chegar em casa e contar o caso.

Já faz muito tempo, foi logo que mudei para cá. E aqui não pegava a Rádio Eldorado, nem a Cultura que eu costumava ouvir em São Paulo. Lá, de manhã eu ia para a escola ao som de ‘Esses clássicos tão populares’ e algumas vezes, na volta, era o ‘Concerto do meio-dia’. Isso enquanto as crianças eram pequenas, depois eles colocavam somente as fitas (eram outros tempos, lembrem-se) de sua preferência. Tudo bem, assim eu pude acompanhar o gosto juvenil. Em casa eu gostava também de ouvir ‘Um piano ao cair da tarde’. A programação da Rádio Eldorado intercalava música clássica e popular, de qualidade.

Mas nem sempre os filhos estavam comigo. Lembro de certa vez em que, andando pelo Minhocão, ouvi uma entrevista com um famoso pianista. Nunca mais esqueci. Ele disse que tocar bem não se devia somente ao talento. Ele estudava muito, todos os dias. Levantava-se bem cedo, tomava café, lia jornais. Depois, sentava-se ao piano e só parava na hora do almoço. Descansava um pouco, e à tarde recomeçava. Só no final do dia é que tocava as músicas que mais gostava, por puro prazer.

Contei tudo isso porque ao sentar-me diante do computador queria escrever e não tinha idéia nenhuma. Lembrei do pianista e resolvi, então, fazer exercício. E assim nasceu esta crônica, do nada...

Deve ter sido o espírito musical que me inspirou. Daqui a pouco vou a Campos do Jordão ouvir a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que hoje encerra o Festival Internacional de Inverno deste ano, naquela cidade.