(RETRATOS URBANOS) DOMINGO NA PAULISTA

Dia preguiçoso...nublado, mas não chuvoso.

Frente ao parque, barracas e badulaques, muita gente, muita bagunça, muita sujeira e confusão. Um lixo diferente, desses que vem de gente que para, gente que come e joga tudo no chão, em um canto qualquer, sem remorso pelo que vier junto com a próxima chuva.

Atravesso a rua e tropeço em algumas cadeiras. Na esquina uma mulher vende cosméticos em uma carriola, logo em seguida, sobre um pano no chão, dragões de papel (ou serão dinossauros?), saltam-me diante dos olhos.

Mais adiante, uma cigana com sua mesa improvisada em um caixote, cheia de brilhos e cores, tenta ler para alguém o futuro e alguns amores (ou serão dores?).

Continuo a caminhada...

Carros de latas de óleo, modelos antigos, feitos à mão com cuidado e paciência. Ao lado, um grafiteiro esborrifa seus sprays sobre papéis, mostrando que esta é a sua arte, seja onde for, seja do modo que for.

E de arte em arte, sigo meu passeio. Arte por toda parte, de todas as formas, em todos os lugares.

Vejo a obra de um artista pela enésima vez...em uma única semana vi, revi, tornei a ver, por tantas vezes que nem sei. As luzes vistas de longe em contraste com as cores suaves...vibrantes!

"Cenas da vida de um pintor."

Sinto-me caminhar entre nuvens e encantar-me por deuses que parecem querer sair da tela para me tocar...

Tenho que voltar, sair deste transe hipnótico pois a galeria vai fechar. Subo a escadaria e continuo a romaria.

Um rapaz sem camisa e fones nos ouvidos passa ao meu lado voando sobre patins.

Ainda envolvida pelo toque dos deuses, não presto atenção em nada e continuo a caminhada...vou por rumo até ser parada por uma palavra: "Poesia?". Volto o olhar e vejo um casal de poetas sentados em um degrau com um pequeno livro nas mãos (produção independente) onde colocaram seus poemas e suas vidas. Compro um livro e converso com eles...

Ela é também artesã, trabalha com a palha do buriti, um casal como nunca vi, felizes com sua arte e partilhando cada um dos seus momentos com doçura e ternura. Trocamos idéias, e-mails, figurinhas...

Voando retorna o rapaz dos patins e salta na esquina me trazendo de volta para vida.

Então sigo para a Casa das Rosas, onde a poesia faz a sua moradia em versos e prosas...