COLONIALISMO CULTURAL
Você conhece os EUA? Já foi lá? Estas duas perguntas são indissociáveis, vez que não é necessário ir lá para se responder à primeira delas afirmativamente. Muitos hão de me atribuir uma certa soberba por ter escrito o que acabo de afirmar, mas logo, no correr do texto, não vão mais ter tanta certeza assim. Uma das qualidades do povo norte-americano, e isso temos de reconhecer, é de que sabem vender seu peixe. Não à toa são considerados uma espécie de Império, com seus tentáculos por todo o planeta. Gostemos ou não, eles praticam colonialismo cultural e econômico aqui no Brasil, desde os tempos de Pedro II. Na esteira deste colonialismo, como um de seus instrumentos mais fortes e contundentes, a industria do cinema espalha seus produtos centrada em Hollywood. Mas não é só de sonhos ou modelos que vive o cinema. Vive também de nos mostrar, incutir, praticando um convencimento subliminar, todo o seu tão propalado “american way of life”.
Muito que bem: abarcado por este leque, poderíamos dividir esta “propaganda”, mas por certo isso não traria nada de significativo para uma análise curta e despretensiosa como esta que aqui fazemos. Dividir no sentido de que há os longas e os seriados de TV, por exemplo. Mas de qualquer maneira, independente de quanto tempo se tem para mostrar o modo de vida americano, suas cidades, suas facilidades, meios de transporte e outras facetas do viver urbano, é sempre um aspecto positivo e de estética apurada que vai para a tela. A quantidade e a qualidade das imagens é tanta que, mesmo sem jamais ter pisado solo norte-americano, posso afirmar com toda a certeza que ando em New York, sua ilha de Manhattan, Brooklin, Tribeca etcetera e tal, como se lá tivesse nascido. O mesmo vale para Vegas, Chicago, Miami, Los Angeles, San Diego e mesmo Washington DC. Acredito que me viro até em Salt Lake. Não estou me gabando do meu cosmopolitismo, não me entenda mal. Estou afirmando com todas as letras que a quantidade de filmes e seriados norte-americanos já assistidos por mim, me autoriza, ou melhor, me capacita a isso. Mas, como é de se supor que a “propaganda” seja sempre bela, alguns aspectos do modo de vida não são mostrados nos filmes comerciais e se o são, passam quase que desapercebidos. Vejam, não acho errado, apenas notei e divido com quem queira exercitar o cérebro. Tanto que, entendo perfeitamente este aspecto nas novelas “globais” quando as mesmas, visando o mercado de exportação, enaltecem a beleza do Rio de Janeiro, às vezes São Paulo, sempre mostrando cenas de cartão postal.
Pois muito bem, ontem assisti um filme de quase duas horas de duração cujo título em alemão é “Route66, ein amerikanischer “ALB” Traum”, o que em tradução livre quer dizer: Rota 66, um pesadelo americano. Este filme retrata a aventura de três jovens vindos da Alemanha e que resolvem cruzar os Estados Unidos pela famosa via. Aquela dos filmes e da literatura, que povoa o imaginário popular de meio planeta, desde sempre, mas principalmente depois de Keruac. São quase duas horas de imagens cruas, sem dó, que passam por Washington, Manhattan, Chicago, Las Vegas... para finalmente terminar na California. Depois desse filme, minha convicção explicitada ao longo deste texto, de que “conheço”, ficou mais forte e continuo a responder negativamente à pergunta n.º 2.