Correndo atrás da sorte

Todos temem o azar, pelo que ele pode trazer de infortúnio, dores de cabeça e estresse, por essa razão sempre que algo acontece de desagradável, fora do resultado esperado, as pessoas se desesperam e põem-se a emitir impropérios, a se lamuriarem e a julgarem-se injustiçadas, achando até que foram esquecidas pelas divindades das suas devoções. Eu só não entendo porque elas, mesmo sabendo que a sorte, nos jogos de azar (o nome já está dizendo), tem chances muito pequenas de contemplar o apostador, ainda continuam insistindo e envidando esforços, “queimando” dinheiro e perdendo tempo com essa baboseira, mesmo que a sua atitude só lhe tenha custado muito azar, por perdas, muitas vezes, irreparáveis, sejam patrimoniais, de saúde ou de relacionamentos; fica mesmo muito difícil de absorver todo esse paradoxo idiota.

É muito engraçado observarmos o quanto o ser humano luta para ganhar dinheiro, mesmo tendo que trabalhar insanamente, até perceber que, se continuar por esse caminho, agindo honestamente e com transparência, mas com ganância elevada ao extremo, correndo atrás da sorte para ficar rico, nada adiantou, nada compensou o seu esforço por perdas de horas de sono, ausência com familiares, estresse nos enfrentamentos com concorrentes desonestos e, muitas vezes, até violentos. Com o passar do tempo, após uma úlcera no estômago ou a colocação de uma ponte de safena, se ele não vier a ter um AVC que o transforme em um inválido, irá perceber que a sorte o abandonou, mesmo tornando-se um milionário. Algum desavisado poderá dizer que é melhor ser um rico doente do que um pobre sem saúde, porém eu tenho certeza de que um pobre saudável, que tenha tempo de praticar esportes, de curtir a vida em meio aos familiares e amigos, não tendo que se privar de alimentos que lhe agradem o paladar, mesmo a partir do simples feijão com arroz, bife e batatas, será muito mais feliz, com certeza. Outros poderão argumentar: “Tudo bem, mas e se ele procurar o caminho da ‘esperteza’, agindo de forma inescrupulosa, usando dos recursos do ‘jeitinho’, sonegando impostos, ‘comprando’ parceiros, derrubando concorrentes com golpes baixos e chantagem, ou pela força do poder econômico? Não seria essa uma forma menos desgastante de enriquecer e ainda ter tempo, saúde e recursos para viagens e festas, sem maiores incômodos?”

Estes argumentos são próprios dos ignorantes em espiritualismo e que não leram ou não entenderam minhas crônicas: 'O Cruzeiro do Equilíbrio' e 'É muito fácil ser feliz' porque estão embasados em alicerces corroídos pela falta de sabedoria. Por outro lado, tanto a sorte quanto o azar simplesmente não existem, portanto correr atrás da sorte é o mesmo que se esforçar pra morder a própria orelha! _Isto é, no mínimo, ridículo.

Nada, absolutamente nada, acontece por acaso ou de acordo com a sorte – toda e qualquer graça, acontecimento ou fatalidade será sempre a resposta a fatos ocorridos nesta ou em outras reencarnações, ou ainda oriundas de ações de antepassados – tanto isso é verdade que combina com um milenar ensinamento budista, que diz: “Se você quiser conhecer os seus feitos do passado, basta analisar as suas condições do presente. Se você quiser saber sobre o seu futuro, concentre-se na sua mente do presente”. Ora, se quisermos ser agraciados pela boa sorte, será imprescindível que construamos condições favoráveis ao acontecimento feliz, que, com certeza, nunca será alcançado se mantivermos pensamentos de negatividade ou ações de acordo com o egoísmo, a ganância, o apego e com a aridez da mentalidade materialista. Da mesma forma em que estivermos colhendo hoje o que plantamos no passado, assim será com o nosso futuro, quando nossos feitos atuais germinarem, refletindo definitivamente em nosso destino, assim como dois mais dois são quatro; tudo depende de nosso pensamento e escolhas.

Em última análise, lutemos para merecermos; construamos com alicerces firmes; sejamos exemplos de decência, honestidade e espiritualidade; façamos deste Mundo um Paraíso, para nós, nossos descendentes e nossos semelhantes, deixando definitivamente de lado a insensatez ridícula de correr atrás da sorte.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 31/07/2010
Código do texto: T2409945