Feminista às avessas
Eu não sou contra o feminismo. Apenas acredito que na busca por provarem que podem fazer as mesmas coisas que os homens - e podem mesmo, em quase tudo - algumas mulheres perderam a sensibilidade e o amor incondicional que as fazem ser tão apaixonantes.
Tenho certeza absoluta de que sou capaz de exercer meu senso de liderança, coordenar uma grande empresa, por exemplo. Mas eu sou incapaz de ser forte o bastante às vezes. Se pudesse fazer tudo sozinha, onde estaria a finalidade de me apaixonar um dia? Eu mesma daria conta de tudo. Uma auto-suficiência inútil, pois não há nada melhor que dividir a vida com alguém que lhe completa.
Eu não quero trocar pneus, lâmpadas, colocar o sapo para fora de casa. Muitas vezes não quero dirigir o carro, assumir todas as responsabilidades dos filhos, mudar um móvel de lugar. Não quero ter que sempre abrir a porta do carro para mim mesma. Não quero deixar de dormir sentindo-me protegida, deixar que ele cozinhe para si mesmo, negar-me a passar suas roupas ou fazer-lhe um outro tipo de agrado. Eu quero admitir que sou frágil e que preciso do outro, sim. Acredito em conquistas femininas, sem a perda do cavalheirismo maravilhoso dos homens e da graça da mulher.
Quanto a isso, Adélia Prado - coisa muito linda e fofinha desse mundo de meu Deus - escreveu um singelo, e por isso lindo poema, que demonstra a delícia de fazer algo ao lado de quem se ama. De ser mulher, incompleta quando sozinha, feliz unida ao outro.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Adélia Prado.
Preciso dizer que concordo com ela. Em gênero, número, grau e amor.