Ame a si mesmo.
 
“O que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde”. Essa frase traduz o comportamento típico da maioria dos homens desde as primitivas eras, apesar de nos considerarmos moralmente muito mais evoluídos, ainda é uma atitude comum. Há cerca de alguns anos, as antenas parabólicas explicitaram este pensamento de um ministro de estado, a sociedade revoltada exigiu do governo uma atitude e fez muito bem, afinal não poderia se admitir de uma autoridade tal comportamento.
A tentativa de parecer o que não se é pode até ser legitima, mas não é um comportamento digno de um ser humano comprometido com a sua evolução e de seu semelhante. Da mesma forma, podemos entender que ninguém é obrigado a expor suas mazelas humanas, também não está moralmente autorizado a enganar o semelhante. Esse como os demais campos que envolvem o comportamento humano são bastante complexos, mas encontram nos ensinamentos do Cristo claras orientações de como devemos agir para desenvolver-se como um ser em evolução.
 “Amar o próximo como a si mesmo” é apenas um dos ensinamentos que, quando praticado com amor merece todo o nosso reconhecimento e deve servir de exemplo. Porém, muitos apenas aparentam seguir os ensinamentos de Cristo na tentativa de se mostrarem servos e cumpridores dos mais elevados princípios cristãos, no entanto, não amam nem mesmo a si próprios.
Muitos exemplos do verdadeiro amor ao próximo podem ser encontrados na vida dos santos, dos iluminados que viveram e compreenderam o verdadeiro sentido das palavras de Jesus. Entretanto, muitas personalidades reconhecidas como benfeitoras da sociedade, aparentam e tudo fazem para manter a imagem de caridosos e benevolentes, sequer compreenderam o sentido completo de amar o próximo como a si mesmo. Apenas entenderam a primeira parte da frase e saíram a praticar o amor ao próximo, o que não invalida o benefício e enriquecimento na vida de muitos. Porém, esqueceram do “como a si mesmo” não por desprendimento, que é uma qualidade que as caracteriza, mas por não entenderem que o amor próprio é tão importante quanto ao que devemos dedicar ao próximo. Assim, muitas dessas valorosas pessoas tornaram-se fator de preocupação e angústia para familiares e amigos, uma vez que descuidam da própria vida em detrimento dos outros.
Existem muitas pessoas que não desenvolveram o amor próprio, as quais, geralmente são encontradas no cotidiano ou em nossa família e dedicam a vida para o bem estar dos outros, mas nada fazem para si mesmas. Um exemplo é aquela mãe que tudo faz para ver seu filho saudável, mas que não cuida da própria saúde, esquecendo que o filho também se preocupa com o bem estar dela. O desejo de fazer o bem ao outro, de amar o próximo como a orientação de Jesus é importante, porém equivalente ao amor a si mesmo. Não se trata de individualismo, egoísmo ou vaidade, apenas de valorizar-se e cuidar de si como cuidamos ou deveríamos cuidar de qualquer um de nossos irmãos. Desenvolver o amor ao próximo sem amor próprio é encurtar os benefícios que podemos proporcionar aos outros, pois sem amor próprio não nos cuidamos adequadamente e possivelmente reduziremos a qualidade do cuidado e do tempo junto a ele.
Entendo que se a doutrina de Jesus pudesse ser resumida em poucas palavras "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, essa seria a síntese perfeita. Observem que o Amor é a ação que devemos praticar e que Deus, o próximo e nós mesmos são o campo de atuação do amor. Deus é pessoal, portanto, indiscutível. O próximo pode ser ampliado e ir além dos outros seres humanos, abrangendo tudo o que nos cerca. E, quanto ao si mesmo, alguém tem dúvida do que é? Certamente não. Então, procure desenvolver o amor próprio, pois ele é um dos pilares do tripé que sustenta essa doutrina.
Sem amor próprio somos incompletos, portanto, não creio em amor verdadeiro para com o próximo sem amor por nós mesmos. O que frequentemente vemos são pessoas dizendo-se felizes, amorosas e comprometidas com o bem-estar dos outros, fazendo “caridade’ e envolvidas em causas sociais, quando na verdade são infelizes, vivendo de aparências e sequer amam a si mesmas. Chegam a descuidar da saúde e aparência tornando-se, inclusive, uma preocupação para os familiares, tudo sob a justificativa do amor e dedicação ao próximo”.
Casos de ausência de amor próprio me remetem a frase do início deste texto, me faz pensar que muitas vezes a dedicação ao próximo é uma tentativa de esconder o vazio interno. Não duvido das boas intenções e dos benefícios das ações de quem, apesar da falta de amor próprio, se dedica a amenizar o sofrimento dos outros, mas se amassem a si mesmo obteriam melhores resultados. Afinal, como podem dar amor verdadeiramente se não têm amor por si mesmos? Desenvolver o amor próprio sem qualquer medo é o primeiro passo para amar o próximo. Pense nisso. Boa semana.