OS IPÊS DA BEIRA DA ESTRADA

OS IPÊS DA BEIRA DA ESTRADA

(José Renato Coan)

Eram pouco mais de 7 da manha, e indo para o serviço deparei-me com vários pés de Ipês, daqueles roxos, todos eles floridos, na fria estação do inverno, e de uma exuberância sem precedentes. Os ipês silenciosos estavam ali, despindo-se de sua beleza e brindando os passantes como eu com um espetáculo de cor e perfume. Impossível passar por aquela estrada e não percebê-los como também é impossível de perceber os pés de ipê sem nos recordar daquele que os criou e os colocou ali, na beira de uma estrada, despojados, silenciosos, apenas para demonstrarem a grandeza do criador. E as lições que nos dão aqueles pés de flores, majestosos, tornando a ida para o trabalho muito mais gratificante do que em outros dias. Curiosamente não havia nenhuma folha nos galhos. Apenas flores. Penso que ai está o despojamento do ipê. Deixar-se perder as folhas para realçar as flores. Renunciar, abrir mão de parte daquilo que é seu, para que outra parte sobressaia e chame atenção. Por vezes na vida também devemos agir assim. Abrir mão de algo para que a melhor parte de nós, a mais colorida, a mais perfumada, a mais encantadora possa ser notada por aqueles que passam pela nossa existência. Renunciar nem sempre tem o condão de perder, de abrir mão, de abandonar. As vezes renunciar significa por um período de tempo minimizar algo para que outro melhor e maior possa ser visto por aqueles que nos notam. Sem contar a gratuidade das ações. Passando no carro não tem como observar aquele pedaço radiante de natureza. E tudo isso gratuitamente. Ele não cobra para florir, para mostrar-se em beleza a todos. E o faz de forma indistinta. Exibe-se sem levar em conta para quem, independente de sua condição social, cor, raça, credo. Apenas mostra-se e o seu colorido é a demonstração clara de que isso o faz feliz. Aprendamos com os ipês, procurando sempre mostrar o nosso melhor, o mais bonito que tivermos dentro de nós, mesmo que para isso precisemos renunciar a algo, e o façamos como eles, de forma gratuita para que assim como ao passarmos naquela estrada e os vendo nos lembramos de seu criador, possam também aqueles que passarem por nós, verem refletidos em nosso semblante de beleza, o rosto de Deus.