O bando que é uma Banda.
Outono chegando ao fim e estes dias frios além do normal, anunciam o inverno já batendo às nossas portas. É nesta época que as barulhentas maritacas dão o ar da graça nos céus da minha cidade. Confesso que esta é a única poluição sonora que aceito com prazer.
Todas as manhãs, das sete às sete e meia, ao atravessar a ponte do São João, ouço os primeiros trinados. Ergo meus olhos ao alto e ao vê-las, agradeço a Deus. São elas, que surgem num bando, em vôo desordenado e num breve bailado pousam nas últimas árvores que ainda restam próximas à ponte. Visualmente tento segui-las. Desta vez bati o recorde, consegui contar umas vinte. Fiquei surpreso, até emocionado, com tantas aves desta espécie em cidades coladas à grande metrópole. Pensei se tratar de aves migratórias, mas lembrei-me que já as vejo a muitos anos nos céus de Jacareí. Tempos atrás, trabalhei na região do “Villa Branca”, onde tive o privilégio – todos o tem, poucos dão valor – de conviver com as maritacas. Neste bairro, há uma reserva de Mata Atlântica preservada e protegida por lei (graças a Deus !) , onde existem algumas aves raras, pássaros incomuns nos dias atuais em cidades tipicamente voltadas à industrialização. Neste bosque vivi um de meus maiores contentamentos ao ver um tucano voando calmo e sereno, a média altura... momento de rara beleza.
Sempre louvo a Deus quando contemplo a Natureza. Seja num ipê florido, num manacá, numa espatódia, numa paineira em flor ou em algodão ou numa palmeira imperial e seus coquinhos maduros espalhados pelo chão, dentre tantas outras árvores e flores que enfeitam minha cidade. Elevo o mesmo agradecimento ao Criador quando vejo belos beija-flores, quero-queros e bem-te-vis. Aliás, este dois últimos quando se encontram com as maritacas formam uma pequena e maravilhosa banda de metais, cujo som estridente nos remete a um passado recente que parece distante, porém, tão presente. Só depende do nosso olhar.