LENDO O QUE A VIDA ESCREVE

Aprecio ler.

Às vezes, no ônibus ou no metrô, me pego, por falta de condições de folhear um livro, revista ou jornal, a ler os livros-pessoas ao meu redor.

Como numa estante imensa enxergo, com certa desordem, livros de todo o tipo, revistas e jornais. Livros de longa vida, revistas de curta vida e jornais de existência fugaz.

Livros com a capa esmaecida pelo tempo, outros com cores vibrantes e títulos sugestivos. A curiosidade faz com que sejam abertos e lidos.

Cada pessoa é um livro cujo conteúdo só se revela a quem o abrir, o ler página a página. Exige tempo, interesse e dedicação.

Nem sempre lemos os livros que precisamos por falta de tempo.

Se fôssemos além das capas descobriríamos mundos exuberantes e riquíssimos que nos levariam ao prazer do encontro com o belo e o sublime.

Muitas vezes, motivados pela bem elaborada plasticidade das capas, defrontamo-nos com conteúdo ruim que pouco nos eleva e muito decepciona. Desistimos no início ou no meio da leitura e o abandonamos na estante. O que consideramos ruim pode ser bom a outros. Nossa seleção é reflexo dos nossos desejos mais profundos – nem sempre tão elevados quanto desejamos. No fundo, agimos como juiz e não como leitor comum.

Outras vezes, folheamos a revista e nos atemos às notícias sensacionalistas, aos dramas vividos por pessoas que se envolveram na teia do crime e da corrupção e que só trazem angústia e desilusão.

Quando olho às pessoas que comigo seguem para destinos diferentes, percebo os outros também me observando, lendo, tentando perscrutar meus pensamentos e descobrir o mistério que envolve a minha existência.

Se pudessem me abrir e me folhear, descobririam um coração ávido por conhecer as pessoas, por amar mais e por exigir menos. Que derruba as barreiras do egoísmo e do orgulho, que não se rende às circunstâncias ditadas pelo mundo, nem se conforma em se esconder dos desafios.

Há que mostrar sabedoria no olhar, essência nos escritos, firmeza no agir. Importa imprimir, cada vez mais, coragem persistente nos textos que escrevemos com a vida presente de bons propósitos, impregnar de amor a nossa alma. Amor que age, que desvenda, que desbrava, que alarga o limite das nossas fronteiras, tirando-nos das trincheiras onde deitam o medo e fraqueza. Amor que arde incessantemente, alternando chama alta e forte com chama baixa e fugidia, sem jamais se apagar.

Fiquemos na estante como livro à espera de alguém que nos encontre e nos folheie para descobrir o conteúdo. Alguém interessado em ir além da capa. Ao folheá-lo encontrará revelada em todas as páginas a melhor matéria-prima que Deus encontrou – a Sua semelhança.