Ataíde não morreu - Crônicas curtas -

- Estou dizendo, era o José Carlos em pessoa, o jeito de andar, as roupas, tudo!

- Mas mamãe, ele morreu faz dez anos.

- Eu sei, eu sei. Mas é ele, todo dia de manhã faz Cooper na praia. Ele passa da uma olhadinha e segue em frente. Eu só tenho que criar coragem e falar com ele.

- Olha lá o que você vai falar, não vai assustar o coitado do homem.

- Pode deixar minha filha, amanhã vou criar coragem e falar com ele. Bem com jeitinho.

E de fato, logo após tomar seu café matinal como de costume, dona Maria das Graças foi caminhar na praia. Esperou no posto Cinco. Ele passaria ali dentro de alguns minutos como de costume. Em meio ao nevoeiro que se formava naquela manhã de inverno, escondida atrás da barraquinha de sucos, ainda fechada, ela salta em frente ao homem e diz:

- Ataíde! O que você está fazendo aqui? Você já morreu, anda me explica.

- Desculpe minha senhora, mas a senhora está me confundindo com alguém que lhe possa ser familiar. Como a senhora pode constatar estou vivo e muito bem obrigado. A propósito me chamo Ernesto.

- Hummm, posso ter me enganado, desculpe e passar bem!

- E ai mamãe encontrou o homem?

- Sim, falei com ele.

- Tirou suas dúvidas?

O desgraçado além de morto é mentiroso, disse que se chamava Ernesto...