Não filha, mas deu vontade....

O clima na família não andava bom. Recentemente Tinho, o filho do meio, foi acusado pela cunhada de roubar do próprio irmão e marido dela. Quantia que, cá entre nós, não vale a história - por isso nem vou mencionar. Depois, é claro, isso não era verdade; Tinho que geralmente é um sujeito calmo, ficou mordido, ele fez que não entendeu a acusação. Ela insistiu e tripudiou dele; aí não teve jeito: lascou golpe na dona que foi ao chão. O resultado foi que Tinho que nunca sequer avançou sinal vermelho, saiu de casa algemado para tristeza de mãezinha.

-Cê acredita que a danada me ligou?

-É mesmo?

-Pois é, depois de tudo ainda teve a cara de pau de ligar aqui em casa.

-E pra que ligou?

-Pra pedir uma favor pro seu irmão.

-Bandida, cara de pau, e aí?

Cretina, sem vergonha, chamou a polícia pro meu filho, agora vem ligar! Ele tem razão. Você não passa de uma safada.

-Você disse isso mãezinha?

-Não, né filha, só pensei. Seu irmão tinha saído, disse a ela que voltava em uma hora.

-E ela ligou?

-Claro, né, precisa do favor. Tinho anda muito ocupado e não vai poder atender seu favor, vê se procura outro.

-É mesmo? Você disse isso?

-Claro que não, né filha, mas vontade não me faltou. Deixei recado pro seu irmão e ele retornou a ligação. Tinho falou grosso com ela.

-É isso mesmo. Essa mulherzinha tem que aprender, depois de tudo que fizemos por ela não pode nos tratar assim. Afinal, qual era o favor?

-Parece que queria saber se ele podeira terminar um dia antes do dia da viagem a restauração daquela radiola que ela comprou num antiquário.

-Tinho não vai fazer isso, né mãezinha.

-Saiu ainda agora pra levar a danada da radiola novinha pra ela. Cê acredita que ligou antes de você chegar pra saber se ele já tinha saído. Tinho está sem carro se quiser venha você até aqui buscar, sua bruxa.

-Cê disse isso, mãe?

-Não filha, ele já não tinha até saído, mas vontade não me faltou.