"MARCELOOO!!"

No meio da tarde vou à padaria. Do outro lado da rua avisto o Marcelo entrando na farmácia. Saudade do Marcelo! Conheci-o através da irmã, colega de colégio. Tínhamos afinidades, gostos literários em comum. Fiquei mais amiga dele que da própria irmã (que só tinha lido “O pequeno príncipe” porque era chique, e quem não tivesse lido tava por fora).

Marcelo era inteligente. Ideias revolucionárias. Queria mudar o mundo. Falava de política, dos movimentos estudantis. Era um sonhador. Aliás, éramos... A realidade “dá rasteiras” nos sonhadores. Deu as suas no Marcelo, em todos nós que sonhávamos. Nada é tão fácil como se pensa aos vinte anos. Sob o choque dos desencantos, a geração coragem se desmanchou. Virei professora. O Marcelo passou num belo concurso da União...

Há pouco, meu amigo mudou-se pra vizinhança. Está grisalho, com cara de homem bem sucedido: um brilhante funcionário público federal (ainda terá sonhos e ideais?). Posso entendê-lo. Comigo também não foi diferente. Todo mundo enquadrado (meio quadrado) e sem sonhos. Nesse momento ele é só um pai de família e avô entrando numa farmácia. Provavelmente, pra comprar um tylenol, talvez contra dengue, um cidadão comum, no seu traje social: calça cinza e camisa branca de manga longa...

Compro meu iogurte. De repente, resolvo: vou à farmácia dizer um alô pro Marcelo. Atravesso a rua. Vou rompendo a barreira que transita na calçada. Paro à porta da farmácia. Meio confusa, localizo meu amigo, de costas, no caixa, todo elegante no seu traje social calça-cinza-camisa-branca-manga-longa. Aguardo. Ele se vira pra sair. Aceno e grito-lhe alegre e animadamente “Marcelooo!”. Um par de olhos intrigados me olha. Tímida e hesitante, uma mão se levanta em resposta. Só então vejo que o respeitável senhor, tirando o traje social, nada tem do Marcelo. Enquanto na padaria eu pensava em brisas, meu amigo tinha já comprado seu tylenol e virado vento! Só comigo...

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MARINA, "se toca, menina"

O Marcelo lá não estava

Quando também passava

Com aquela roupa "fina"

Na Farmácia ele entrava...

Era Zé Maria e comprava

Remédio pra sua angina!

(Pedrinho Goltara)

(Divertida como sempre sua interação, Pedrinho! Adorei)

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