NA VIDA TUDO PASSA
 

Sossega, minha dor, e não te aflijas mais

Queres o anoitecer; ei-lo que vem chegando:
Na cidade se espalhou uma sombra tenaz
A alguns trazendo a paz , o outro a dor levando
(Charles Baudelaire)
 



Noite escura; da varanda do quarto observava a rua. Uma pessoa caminhava despreocupada, evitando as poças de água  formadas pela  chuva torrencial que há pouco começou a cair  . Não se protegia da chuva, o seu caminhar não demonstrava pressa , era como se não tivesse destino nem estivesse á procura de um abrigo, de alguém.

Aquela pessoa que eu não conhecia, atraiu-me e me veio o desejo de sentir a mesma sensação  de liberdade que   imaginava existir nela. E fui tomada por uma vontade forte de caminhar na rua, numa tentativa de que a chuva levasse na enxurrada todos os meus pensamentos, que me deixasse vazia de bem-querer, para que eu pudesse ser invadida por um cansaço que não me permitisse mais sonhar, que não me permitisse mais sentir saudades nem ser assaltada por lembranças.


...Devo ter adormecido na varanda...O dia parecia não querer amanhecer... Entre as minhas mãos o livro de poemas do poeta Assis Câmara e eu repetindo baixinho: “Tudo passa! Na vida, tudo passa. / Passa a dor, o prazer, a formosura, / A ambição, o desejo e a fartura, / Até o amor...”


A chuva também passou...


PS: Com os meus cumprimentos,  esta crônica é sua  MARINA ALVES.
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 29/07/2010
Reeditado em 29/07/2010
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