Como eu me sinto II
Eu não me sinto. Pareço um armário velho. Cheio de objetos antigos. Sem valor. Pesado. Tendo que carregar estas coisas...
Artefatos que o tempo e a experiência criaram. Medos. Sensações de... Não há descrição. Minha memória está cheia. Preciso esvaziá-la. Tratar melhor dos meus sentimentos.
Estou meio imóvel. Parado. Criando raízes nesta fundação. Estou meio móvel. Meio velho. Estou aqui. Olhando cada canto. Não me encanto. É como a tábua que não tem mais serventia. Cada dor. De encontros. De re-encontros. De desencontros.
Como o café que sobrou no copo. Amargo e frio. Ele não quis ser tomado. Mas tive que bebê-lo. Desperdício não se pode mais. Não tenho luxo. Também não acumulo lixo.
Estou precisando "me jogar fora". Necessito urgentemente "me comprar". Ainda não sei em qual loja me achar. Atualmente não se fazem mais muitos de mim. Virei peça rara. Peça cara.
Será que me tornei artigo de museu? Eu quero doar os "eu´s" de mim. Assim posso carregar menos peso. As costas doem menos. O coração bombeia mais.
Quero fazer um adendo. Sobre os rins. São órgãos injustiçados. Cadê o valor dos rins? Eles filtram nosso sangue. Retiram nossas impurezas. Com alguma certeza devem excretar nossas dores. O que a memória não esquece.
São os néfrons que fazem isto. Mas deram os sentimentos ao coração. Néfron poderia ser um filósofo. Faz parte dos rins. Por isso, beba água. E te lembres de esquecer.
Como tu te sentes?