São Paulo da garoa (para Lenapena)
Férias de julho tinham um que...; de quero mais na minha infância. O inverno parecia alongar um pouco mais as brincadeiras à tarde. A manhã e a noite, o aconchego unia a família no interior da casa. A cozinha resfolegava ao som do fogo, enquanto, todos espichavam os pescoços para olhar o ferver das panelas cantantes.
Os sabores tinham um que de saberes; quando o meu tio Marconi entrava pela cozinha. Além de maestro, músico, e tantas outras qualidades, sabia contar histórias! Vinha com os causos dos bastidores da televisão. E, como tinha coisas para contar! Novidades e mais novidades! Os festivais efervesciam e, com isso, a família tinha cadeira cativa para aplaudir a sua participação musical junto ao Trio Marayá em cada festival que participavam.
E, sair à noite em São Paulo, sempre foi o meu sonho de menina interiorana. Vovó me encapotava! E não faltava o gorro, luvas, meias de lã. Mas, na calçada no caminho do ponto de ônibus, eu tirava o gorro para sentir a garoa cair nos meus cabelos longos.
Gelada; a garoa brincava de ser pensante, comigo. Ser pensante? Isto mesmo, a brincadeira é; quando as gotículas da garoa caia nos meus cabelos me deixavam mais inteligente. E, deste modo; ela e eu nos tornávamos uma só; um ser pensante!
Assim, as nossas semanas de férias na capital paulista sempre recheada de biscoitos, bolos, pães... com chá ou café com leite quente tinha a diversidade contestada pelo senhor que vendia pinhões cozidos em uma lata vazia de vinte litros. O fogo ficava em um buraco na parte de baixo (tudo muito limpo) esquentando a água que cozinhava os deliciosos pinhões. Seu Antônio entrava para vender os pinhões, nós arrumávamos a mesa, e, ele lambia os beiços com os quitutes. Ah! O cabelo encaracolado de Seu Antônio ficava molhadinho com a garoa paulistana. Eu olhava os seus cabelos úmidos e tinha certeza;
_Ah! Ele, também é um ser pensante. Eu não estou só!
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Está coleção de palavras é uma homenagem a lenapena pela sua crônica:
O INVERNO ERA DIFERENTE
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