Viagens Surreais II

Nos sonhos viajo, algumas vezes, para outras dimensões, outros mundos. Ao menos, é a sensação que tenho.

Em outras oportunidades, em meus sonhos, viajo para lugares que conheço, embora tenham momentos em que pareçam um pouco – apenas um pouco – diferentes de como eu me lembro. Uma vez sonhei que ia passar um fim de semana em Capão da Canoa, cidade litorânea do Estado do Rio Grande do Sul. Lembro-me apenas de minha chegada à rodoviária, naquele sonho, um prédio moderno, grande e climatizado, com plataformas de embarque e desembarque que lembravam vagamente algumas estações de metrô de São Paulo, ou aquelas plataformas de embarque em aeroportos, como o Salgado Filho, em Porto Alegre.

Pois no sonho que tive, na última noite, não prestei muita atenção nos detalhes do lugar para onde me dirigia. Pois penso muito em voltar a este lugar, essa cidade, e isso não é segredo pra ninguém, nem mesmo pra quem me conhece só no mundo virtual – e mesmo assim, há pouco tempo! Hoje, após ir até a JUCERGS, para dar entrada numa nova firma, passei pelo Mercado Público, onde fui comprar uns doces. Jujubas – ou balas de goma, se preferir – e alfajores. Enfim, enquanto dava uma olhada nas mercadorias e resolvia o que ia levar, ouvi duas amigas conversando, e uma disse: “Tenho que me preparar, comprar umas coisinhas, que amanhã vou pra Manaus!”

Sim, Manaus! A cidade que, sabe lá como, se impregnou em meu espírito de tal forma que boa parte do tempo passo querendo estar lá, cidade que, apesar de alguns pesares, se tornou meu lar, doce lar – e me dói muito estar longe de casa! Enfim, toda vez que ouço alguém falar de lá, toda vez que falo com amigos, conhecidos e familiares – deixei por lá uma filha, adotiva, porém filha, eternamente filha, mesmo que para ela venha a não haver mais esse vínculo – sinto mais vontade de lá estar. Não que não goste da terra onde nasci (na verdade, da cidade, não gosto, do Estado, gosto sim), mas me sinto mais em casa, meu coração, meu espírito, estão mais ligados ao meu lado amazônida. Mas enfim: hoje, graças a uma conversa alheia, que inadvertidamente escutei, percebo que há muito mais laços ligando Porto Alegre e Manaus – bem como o Rio Grande do Sul e o Amazonas – do que a grande maioria queira admitir.

Pois bem, curiosamente, na noite anterior, sonhei que ia para Manaus. No início do sonho, um sujeito, também nascido aqui, no Rio Grande, atualmente morando lá, no Amazonas, me ligava. Uma proposta de emprego, ou alguma coisa nesse sentido, para o pleito deste ano, para as eleições no Amazonas. Feliz, eu aceitava a proposta, e no outro dia estava já no aeroporto, embarcando para lá, para Manaus. Não me vi entrando no avião, nem descendo dele – ou do avião de conexão, sequer vi onde foi, se foi! Na verdade, até acredito que esse é, de certa forma, um mero detalhe. O que interessava era estar em Manaus. Lembro vagamente de estar vestindo meu casaco de moleton, no início da viagem-sonho e no fim, carregando-o junto a uma pequena bolsa daquelas de viagem.

Lá chegando, era recepcionado, no aeroporto, não por quem havia me ligado, esse senhor que apenas conhecia de nome, em Manaus ele é um conhecido marqueteiro político, trabalha com vários nomes importantes da política manauara e amazonense, tem em sua carteira de clientes, pelo menos, os últimos três prefeitos daquela cidade. Como disse, só o conhecia de nome, quando morei por lá, só hoje, através do site de microblogs twitter, vim conhecer um pouco melhor essa pessoa – e mesmo assim, há poucos meses.

Mas então, quem me recepcionava no aeroporto, não era esse sujeito, que tinha me feito a oferta, no sonho, mas um velho amigo, dos bons tempos que vivi em Manaus, ex-colega de trabalho, numa pequena loja de colchões. No sonho, ele também estava trabalhando com o tal marqueteiro, na verdade, só durante o recesso de suas aulas na faculdade de medicina – sim, no sonho ele me disse isso, é que no “mundo real”, ele está mesmo fazendo medicina. Não vi muito do caminho, pulamos diretamente pra um pouco mais a frente, no tempo, quando descemos de um carro branco, em frente de uma pequena construção, na região central da cidade onde, do que me lembro, funcionava o diretório de um determinado partido político – o mesmo de um outro amigo meu, que curiosamente não entrou no sonho.

Lá, encontrei mais outros ex-colegas da mesma empresa que citei acima, que efusivamente apertavam minha mão, davam-me abraços – no caso das garotas – e demonstravam a satisfação de me reverem, depois de tanto tempo, satisfação essa recíproca, na verdade! Uma vez lá dentro desse comitê eleitoral, via alguns deles trabalhando em confecção de cartazes e plotters para a campanha de um determinado candidato a governador daquele estado, ex-senador, ou senador licenciado, algo assim...

Bom, conversávamos animadamente, então tive meu pescoço envolvido por suaves braços de tez morena, de uma de minhas ex-colegas, que me beijava o rosto, para depois me dizer, com um belo sorriso, que não esperava, mas estava feliz, por me ver ali. Depois, com um sorriso malicioso, ela apontava para meu amigo aluno de medicina e dizia que ele já estava amarrado (ou seja, encontrava-se casado, ou por casar). Parece-me que comentei, remotamente, que era interessante ele estar assim, de bem, inclusive trabalhando com sua ex-namorada, uma ex-colega e amiga nossa também, que aparentemente não curtiu muito meu comentário...

Pois bem, enfim via esse sujeito, que havia me convidado, no início do sonho, e vinha apertar minha mão, dizendo-se satisfeito por me conhecer e comentando que meus amigos tinham dito apenas coisas boas a meu respeito. Eu agradeci e também o cumprimentei. Então, um outro amigo meu, um baixinho maranhense, entrava um tanto esbaforido, dizendo que o atual prefeito pretendia fazer uma visita àquele comitê. Então o marqueteiro dizia que não era para o prefeito vir até ali, que não queriam nem mesmo seu apoio à candidatura do tal senador.

Bom: nisso, ouve-se o prefeito chegar e bradar que iria entrar, que queria entrar e conversar com o pessoal lá dentro, e toda a velha turma foi-se para fora, para impedir a entrada do sujeito. Da velha turma, ficavam apenas duas pessoas ali dentro, eu e a ex-colega de trabalho, a amiga que há pouco havia enroscado seus braços em meu pescoço e com quem, digamos, tive um fugaz affair... enfim, ela fez menção de sair também, embora não para o mesmo lado, e eu a segurei pela mão. Sorrimos, então, um para o outro, ela pegou em minha mão, sentou-se na mesa, em frente a onde eu me encontrava, sentado em uma cadeira, acariciou meu rosto com suas encantadoras mãos. Então, levantou a perna direita, levando seu pezinho a meu peito, depois subindo e com ele acariciando meu rosto. Peguei seu pé lindo e delicado e beijei-lhe a sola. Ela riu. E quando começávamos a conversar sobre a saudade mútua e sobre nós, sobre se eu estava voltando para ficar... acordo do sonho, às 4h25min. Infelizmente era só um sonho, infelizmente não estava em Manaus, infelizmente a madrugada estava gelada... e infelizmente, quando a coisa tava pra pegar fogo, eu acordo! Puta falta de sacanagem!!

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 28/07/2010
Código do texto: T2405080
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