O INVERNO ERA DIFERENTE
Em minha infancia, os invernos eram mais invernos.
Me lembro de sair bem cedinho para a escola, e achar super divertido abrir a boca e dela sair fumaça, parecia que estava fumando.
Faziamos ate aposta eu e minhas amigas, quem soltava mais fumaça, pelo caminho da escola.
O quintal amanhecia quase todos os dias coberto por fina manta esbranquiçada, que minha vó chamava de "orvalho da manhã."
E meu vô chamava de "geada".
Com o romper do sol, essa manta ia se transformando em gotas de agua cristalina, que brilhavam em cima das folhas.
Nossas camas, gavanham o reforço de cobertores de feltros carinhosamente costurado a maquina, pela minha avó, que tambem fazia crochê em suas pontas, so para enfeita-los.
Esses cobertores eram pesados, e quando minha mãe colocava mais de um em minha cama, por estar fazendo muito frio, eu quase sufocava com o peso.
Esquentar esquentava, mas como eram pesados.
Não havia ainda os edredons, hoje tão leve e comum.
Nosso vizinho Seu Rubens casado com a dona Araci, pai do Nivaldo e mais dois meninos.
Em uma noite de muito frio, resolveu colocar uma lata em seu quarto e uma na dos filhos, encheu-as de carvão e acendeu.
Pois no meio da noite elas se apagaram, e a familia quase sufocou com a fumaça que se formou.
Ainda bem que dona Araci acordou, e mesmo meio tonta pela fumaça que havia inalado, conseguiu rapidamente abrir as janelas.
A familia toda podia ter morrido nessa noite.
Pois é tambem não tinhamos as lareiras, hoje muito usada.
Nessa estação a cozinha era ainda mais concorrida, pois o fogão a lenha a deixava quentinha e aconchegante.
Era gostoso logo pela manhã acordar com o cheirinho do cafe coado no coador de pano, nos convidando a sair da cama.
Ainda não haviam as cafeteiras eletricas, nem os aquecedores de ambiente.
Minha Mãe ja no outono começava a tricotar lindos agasalhos coloridos para toda familia.
Me lembro de um par de luvas que ela tricotou para eu ir a escola.
Como ela não tinha pratica em fazer luvas, elas me incomodavam, não se ajustavam direito aos dedos.
Mas eu as colocava toda orgulhosa e faceira, pois era uma novidade ir a escola de luvas, naquela Vila repleta de gente simples e amavel.
Nesse tempo roupa comprada pronta era artigo de luxo, não havia tanta facilidade como hoje em compra-las.
Os labios cortavam pelo frio do inverno, e la ia minha vó comprar manteiga de cacau, na farmacia do Seu Vitor.
Elas vinham cortadas em quadradinhos, embaladas em papel manteiga.
Era uma delicia o sabor e o toque delicado que elas tinham.
Os labios ficavam brilhando, parecia que haviamos passado batom.
Tambem ainda não existiam os batons hoje comuns para proteção labial.
Não é saudosismo não !
Ou sera que é ?
Mas a mim parece que o inverno tinha cara de inverno.
E nos preparavamos para ele.
Hoje ha dias que em plena estação de inverno temos temperaturas beirando aos 30 graus.
Isso não ocorria em minha infancia, inverno era mesmo frio, as vezes muito frio....
E era deliciosamente curtido por mim ! ! !