UMA SOMBRA PERDIDA A QUEM PERSIGO
 
 


“...Não choro, então, para não lhe ver chorar  

Mas tenha cuidado com a sua bagagem
 Nela carrega o que não pode aqui deixar
 Meu coração que lhe acompanha na viagem”
(Nena Medeiros /DESPEDIDA)
 


Gosto de poesia. Platão dizia que o poeta é privado do sentido lógico. No que contesta Harold Osborne, na sua Teoria da Arte, onde afirma ter o poeta  liberdade para criar ou ser a sua própria fantasia, sua própria imaginação. Uma das coisas que admiro no poeta é a sua capacidade de construir imagem sem compromisso com a verdade. O imortal Valério Mesquita no seu discurso de posse na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, nos diz que a liberdade da ação poética está sempre nas esferas mais altas da sensibilidade. E citando Keats : “uma coisa bela é uma alegria para sempre”. Para o imortal a poesia é esta alegria para sempre de beleza recriada. Acrescentando, que Valéry via na poesia uma espécie de energia propiciatória do poeta que os gregos chamariam de práxis, um valor que não pode ser medido e que, certamente, está fora ou além das medidas programadas.

A poeta Nena Medeiros constrói os seus versos e deixa no ar a subjetividade de uma despedida sofrida...  Sabemos que o poeta é um fingidor, mas isso não impede de acreditar nas suas palavras e fazê-las nossas, principalmente quando faz sentido à nossa dor e  não temos condições de  “fechar o livro quando persiste, ainda, motivo para o pranto” (antítese dos versos de Manuel Bandeira = “fecha o meu livro / se por agora/ não tens motivo / nenhum de pranto”).


E, se por aqui a noite é escura e a chuva cai, imagino nesta noite, uma sombra perdida a quem persigo na esperança de ser quem procuro para entregar, também, o meu coração.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 28/07/2010
Reeditado em 28/07/2010
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