Quem é você?
Quem é você?
Não...não pergunto à você! Pergunto a mim mesma! Procuro diante do espelho aquilo que pareço ser, o que procuro ser, e a minha real essência. Qual destas usarei hoje? Não sei ao certo se depende mim ou de você!
É cedo ainda e o despertar do sol na janela me faz abrir os olhos. Acordar de um sonho bom me faz pensar que a realidade talvez não seja tão apreciativa, mas levanto-me. Diante de mim, uma pessoa que (des) conheço e que passa a dialogar comigo:
-Quem é você?
-Por quê você quer saber? Já não me conhece?
-Sim. Conheço-lhe. Entretanto conhecer-te me fez perguntar: Quem é você?
-Não entendo! Se me conheces , então qual a razão do questionamento? Me poupe as palavras!
-Posso poupar-lhe as palavras, mas não os pensamentos.
-Não entendo. Como assim quem sou eu?
Momento nostálgico. Começo a entrar numa crise existencial. Quem sou eu? Já não tenho tanta certeza.
Mariazinha? Cleonice? Joana? E se eu não me chamasse como me chamo, seria outra pessoa?
-Não vamos dar uma de "O mundo de Sofia"... Não estamos falando da história da filosofia, mas questionando apenas sobre você.
- Tudo bem.
Paro por um instante novamente em frente ao espelho. O mesmo de sempre. Aquele que está acostumado ou até enjoado da minha cara. Será que ele saberia responder-me quem sou? Difícil. Só enxerga invólucro, não essência.
Mas qual a minha essência? Tudo. Simplesmente tudo de mim mesma, até o que desconheço. Não o que pareço ser, pois isso é só o que o espelho e as pessoas enxergam, aquilo que elas se permitem julgar. Não o que tento ser, pois este é algo fora do que sou, uma tentativa de ser. Talvez frustrante.
Cansei. Nunca pensei que procurar por si mesma fosse tão complexo! Me acho em meio a tudo e me perco tão facilmente voltando ao nada. Minha essência ainda é parcialmente desconhecida à mim. Entretanto, busco-a incessantemente. Não quero que se perca em meio ao parecer e tentar ser. Volto-me ao espelho e novamente pergunto: Quem sou eu?
Finda-se mais um dia. Com resposta? Não sei. Acho que Clarice tinha toda razão quando disse: "Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço." (Clarice Lispector)