Duas Vidas, um Destino - 3ª Vida, Revolta
3ª Vida – Revolta
“1ª lei da Robótica: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
1º mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor teu Deus com todo o seu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças e sobre todas as coisas.”
A poeira densa juntamente com a noite que começava a despontar no horizonte junto à sua escuridão tornava o local onde estavam ainda mais sombrio. Os pedaços de madeira, unidos aos objetos do ambiente e a parca iluminação formavam figuras bisonhas no recinto.
-Vocês estão bem? - diz alguém, provavelmente a mesma pessoa que os salvou do reencontro com Harumi, que já se distanciava, proporcionando-lhes certo alívio - Descansem e cuidem de seus ferimentos.
-Mas... mas... argh! Gasp!... Que... quem diabos é você? - retruca Ino.
-Não acredito... - suspira o estranho - feriram também a sua mente a ponto de não reconhecer a minha altamente requisitada presença tecnológica? Pobre Ino, tsc, tsc, tsc...
-Meu Deus!! Hah, hah... maldito, então aqui é...
-Exato meu caro policial... eh... The Shot?! Era assim que o chamavam não é?
-KATSU!
O abraço foi tão saudoso que até os ferimentos foram esquecidos.
-Peraí, antes de qualquer coisa, quem é esse jovem?
-Meu nome é Setsuna. - adianta-se o jovem.
-Não se preocupe Katsu, ele é um amigo.
-Se é seu amigo então é meu também, muito prazer meu caro Setsuna.
A noite corre solta e aproveitaram o fato de terem despistado a Harumi para cuidar dos ferimentos de Ino, que descansava enquanto Setsuna contava os fatos para Katsu.
-Entendo, quer dizer então que essa mulher os estava atacando quando você recobrou a consciência e mesmo sem entender o porquê, vocês fugiram até aqui no meio da chuva.
-Exato. - diz Ino, já desperto, o qual nota estarem no quarto de Katsu, que se mostrava um homem um tanto organizado mesmo levando em consideração o emaranhado de cabos e fios que ligavam a aparelhagem sofisticada que lembrava muito ambientes de filmes como Matrix entre outros.
-Espere! - diz Katsu ao ver que Ino se levantava - Você ainda não está bem.
-Como não. Estou dolorido e minha mão está doendo, mas não é nada sério.
-Como nada sério, me deixe ver isso... - a expressão de assombro cobre o rosto antes sereno de Katsu. Katsu possui uma face fina de nariz levemente arrebitado, onde se apóia seus óculos providos unicamente da armação central, sem as pernas, somado ao peculiar cavanhaque e cabelo claro arrepiado os quais formam um ar meio intelectual que ocultavam uma mente brilhante de um exímio hacker [http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker].
... COMO???
Sua voz foi tão abrupta que Setsuna chegou a se engasgar com o que comia.
-Ugh! Cof, cof... o que foi?
-O que foi? O QUE FOI? Eu te digo o que foi! Foi o Ino!! Mas é impossível que ele tenha feito isso!!
-Feito o que? - indaga Setsuna.
-Tudo bem Katsu, acalme-se... Bem, ontem quando vocês chegaram aqui ele estava bem acabado... mas hoje...
-É claro! Eu dormi e recuperei minhas forças.
-Ah é? Pois como você me explica o fato de seu corpo estar com todas as inúmeras lesões que tinha quando chegou aqui ontem praticamente curadas!! E essa sua mão tinha sido esmigalhada por dentro mais do que uma casa em meio a um tornado e agora está inteira!! Nem sono em jogos de RPG é tão milagroso. E afinal de contas, o que houve no período em que o Setsuna ficou inconsciente?
-Desculpe interromper a conversa, mas tenho assuntos mais urgentes... - diz Ino tentando sair de mansinho.
-Espere aí...
A voz de Katsu é abafada por um estrondo intenso no local. A parede do lado leste do local se encontra destruída e em seu lugar está uma belíssima jovem de traços delicados, porém, arrojados. Cabelos longos dividem-se conforme vão se prolongando exoticamente em um prateado sutil finalizando pouco abaixo de suas nádegas tão perfeitamente irreais que poderia se dizer que a mesma sequer existe. Olhos de um verde-esmeralda transbordante e misteriosos devido à estranha falta de retina que conferem um ar místico, quase sobrenatural à jovem com possível idade entre 19 e 22 anos. Traja alguma espécie de malha azul marinho que lhe cobre todo o corpo reforçando sua beleza, que contrasta com listras na altura de seus braços, cintura, costas e seios as quais parecem lampejos elétricos.
Seu punho empoeirado denuncia que ela derrubara a parede apenas com a força de suas mãos.
-Que linda...! - deslumbra-se Setsuna sem notar a nova "janela" feita por ela.
-Quem é vo...
-ZERO!! - o brado de Katsu chamando à jovem anula e responde ao mesmo tempo a pergunta de Ino.
-Por onde você esteve esse tempo todo? - indaga saudosamente o jovem enquanto se aproxima levianamente dela.
-CUIDADO KATSU!!! - clama Ino percebendo o sutil, porém, veloz movimento da jovem que desfere em golpe contra Katsu que só sente-se ser lançado contra um de seus computadores. E eis que ele percebe estar com o jovem Setsuna inconsciente em seu colo.
Ao tentar se mexer, Katsu sente uma fisgada no braço esquerdo que ficou deslocado devido ao impacto.
“ Como?! Como pôde se movimentar tão veloz a ponto de sair de trás de mim e ainda se colocar entre os dois? Será que...” - o pensamento de Ino é interrompido pelo avanço repentino da jovem sobre ele.
Zero desfere um soco direto contra ele, que pára o golpe com sua mão, porém, leva um violento chute no lado esquerdo, projetando-o através da porta pelo corredor ao que Ino aplica uma cambalhota para trás, pegando impulso na mesa que se encontrava no caminho, onde recupera sua arma, e se joga contra a parede mais próxima, pairando por uns segundos o suficiente no ar para que ele atire contra ela.
O disparo faz Zero ser projetada para trás.
-Não Ino, não machuque minha filha! - as palavras de Katsu mesmo soando no mínimo estranhas, o fizeram parar.
-Como assim? Filha sua?! Como é possível? - retruca Ino enquanto se dirige até Katsu ainda com Setsuna no colo.
-Eu vou te explicar. Acontece que...
Katsu interrompe sua explicação ao sentir o sangue lhe atingir o rosto devido a uma perfuração por algo no ventre de Ino por Zero, assim que ele passou pelo seu corpo.
-U-argh... como pode? Eu tenho certeza que a... at-tingi. Será q-que m-me... enganei?!
Após se separarem, ele se vira e realmente nota que a atingiu no ombro.
-Ela é um ciborgue. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciborgue] - diz finalmente Katsu - Foi construída por mim. Possui 40% de seu corpo constituído de partes cibernéticas, enquanto que o restante é orgânico, exceto...
Novamente suas palavras são interrompidas por Zero que avança violentamente sobre Ino que aponta pra sua cabeça.
-É fácil então!! Basta matar a parte orgânica. - no entanto, a jovem, adquirindo velocidade sobre-humana surpreende Ino segurando sua mão, sobrepondo a sua na dele e tomando o controle da arma junto a ele.
-Não a mate!! Não mate minha filha!!
-E o que você sugere que eu faça heim?? O gênio aqui é você!! - nisso, ela, com a outra mão, golpeia violentamente o abdômen já ferido de Ino e sem ao menos deixá-lo sentir a dor do golpe, aponta a arma para o local do golpe, apertando o gatilho. O projétil atravessa o corpo de Ino espirrando sangue pelo ambiente.
A dor excruciante não permitiu sequer um grito de dor por parte de Ino, que cai de joelhos antes de ir ao chão.
-INOOOOOOOO...!!!!! - o grito era audível a até dois quarteirões, tamanha sua intensidade, que poderia ser comparada a uma manada de elefantes em debandada.
Nesse instante, ainda semi consciente, Setsuna vê de relance uma figura imponente sobre o prédio vizinho.
Ao prestar atenção, ele vê a figura soberana de Ibuki olhando pra ele, o que o faz mudar de repente de aparência e olhar ao que ele brada aterrorizando Katsu que não entendia nada do que estava presenciando.
-IBUKI!!!
A força da raiva e do grito amplificados chegam a gerar uma energia intensa ao seu redor que quase destrói o local, chegando a lançar Zero para o interior dos cômodos.
Seus cabelos mais compridos do que na forma inocente exibem uma magnífica dança pelo ar que só não pôde ser mais apreciada devido à forte aura que emanava de seu corpo.
-Você conhece aquele cara? - indaga Setsuna com uma voz imponente totalmente oposta de quando ele é o outro Setsuna.
Katsu observa a figura de sobretudo sobre o prédio.
A imensa veste negra cobre quase que completamente seu corpo, detalhes dourados adornam o sobretudo que só deixa à mostra seus cabelos branco-acinzentados, os óculos negros pendentes na fronte mostrando de relance o rubro inconfundível de seus olhos.
-Ibuki... - o tom raivoso na voz denunciava tudo.
-Você o conhece? - indaga Setsuna, a curiosidade inundando suas palavras.
-Foi ele quem custeou minha pesquisa na criação de Zero...
-O quê?! Então vocês estão juntos nisso??
-Não exatamente... - seus olhos sondam o horizonte, buscando imagens, fatos e lembranças dos acontecimentos. -... digamos que ele tinha o patrocínio e eu, o projeto, e então acabamos por nos unir em uma meta de comum acordo.
-Você.... o que fez com a minha filha?? - clama Katsu, visivelmente abalado.
Tediosamente, Ibuki suspira e enfim pronuncia-se:
- Perdoe-me meu caro Katsu, mas foi você mesmo quem me pediu pra cuidar dela como se fosse minha filha... e foi o que eu fiz. Apenas acrescentei alguns pequenos detalhes para torná-la... digamos, mais eficiente.
O tom debochado de Ibuki apenas amplificava o ódio do jovem cientista, que ia se manifestar novamente quando um estrondo ocorre no quarto ao lado onde se encontrava Zero, seguido de um bloco de concreto que ela arremessa contra eles, ao que Setsuna reage rapidamente, desviando Katsu do objeto que cai no pátio do conglomerado.
-Bem, os detalhes você me conta depois, primeiro nós temos que nos livrar dessa enrascada.
-Certo. Mas e o Ino? Como ele está?
-Eu... vou ficar bem. - diz Ino mais pra si mesmo do que para os dois.
Setsuna ainda olha novamente para o prédio vizinho, porém Ibuki já não se encontrava no local.
Ao olhar lá embaixo, ele vê algumas pessoas fugindo do local, uma estrutura pavimentada rodeada por quatro edifícios de aproximadamente vinte andares com um belo coreto pelo qual passaram na noite anterior ao centro.
Além disso, ele nota algo estranho, o bloco de concreto que Zero arremessara contra eles se encontrava intacto.
Como se isso não fosse o bastante, o bloco estava se movendo, como que saindo do chão.
-Meu Deus, ela está erguendo o bloco inteiro!! - diz um dos moradores.
-E ela está ilesa! - completa outra moradora.
-Não pode ser verdade... - diz Setsuna.
Mas era, como se fosse uma ilusão, ele vê Harumi erguer com relativa facilidade um bloco de aproximadamente 150 kg, para em seguida, arremessá-lo contra o andar onde estavam.