O AMARGO GOSTO DO MÓRBITO

Ele recebeu um e-mail que prometia ter as fotos exclusivas do corpo decapitado de Maria. Não quis abrir, ficou com medo daquele gosto mórbido que o fazia ler sobre os detalhes dos crimes mais hediondos que a mídia exibia.

Respirou, quis deletar, resistiu, mas não conseguiu, e abriu o e-mail; viu as fotos e sentiu um tipo de contentamento misturado com uma espécie de alivio: era sempre o outro, nunca ele, nunca ninguém perto, nunca alguém que ele amava.

E assim, a cada batida de carro, cada acidente que via, ele seguia se convencendo, que nada de errado aconteceria com ele, até o dia em que ele foi vítima de uma bala perdida, e sua foto circulou na mídia, alimentando a morbidez de outros tantos, assim como ele fazia.