Pequena retórica sobre possibilidades...
 
Um dia desses, sem querer nada, eu dei de cara com o alumbramento. É sim, alumbramento, desses de corar por fora e enternecer por dentro. Olhei no espelho setecentas mil vezes e todas essas vezes, pensei: “Deus meu, é tudo isso dentro de mim, será mesmo, isso tudo? Ou será puro fruto da minha inocência sem fim?
Bom, quem está na chuva é pra se molhar, então, deixa eu lavar os cabelos e aproveitar também para lambuzar a Alma nessas águas geladas... No máximo, posso pegar um resfriado... Mas não me importo, afinal, tô deslumbrada, querendo sonhar com a lua, agarrada com a lembrança dele e umas coisas que só nós dois imaginamos!
Fico pensando, mais de setecentas mil vezes, quantos beijos ainda estarão guardados naquele poema específico? Fico pensando, pensando, pensando, e quanto mais eu penso, mais meu coração corre perigo...
Meu alumbramento tem esses traços firmes, de quem tem as pernas bambas, sabe que sou ruim de samba, mas recito uns versos ao pé do ouvido... Ah , eu duvido que outra alumbrada, tenha mais pontaria que o meu cupido!
Posso estabelecer setecentos mil anos, ainda assim, estarei infantil, imatura e encantada, afinal de contas, passa o tempo e crio rugas, surto sustos, adiciono perdas, multiplico dúvidas, condiciono fugas, recrio formas, construo pontes, destruo vigas, intensifico síndromes, transmuto prazeres, alimento sintomas... Diante de tudo isso, por favor, nunca me diga, que o alumbramento é uma espécie de tolice...
Por favor, nunca me diga:
- Não te disse? (Com esse tom cafona, de quem não acredita em possibilidades.)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 26/07/2010
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T2401155
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