Divagando
A vida é uma caixinha de mistérios, de coisas que vivemos porque simplesmente temos que viver. Provas pelas quais temos que passar e tirar as melhores lições transformando o ruim em bom, a tristeza em alegria de certa forma, reconstruindo as nossas próprias histórias que não deram certo.
Em todos os momentos de nossas vidas, nos deparamos com segundas chances, re-começos, novas perspectivas para fazer uma nova história e um novo final.
As pessoas tentam se defender de suas imperfeições, com eternos bordões do tipo “nessa vida só me arrependo do que não fiz”, ou “se pudesse recomeçar, faria tudo exatamente igual”, mas na prática tudo é muito diferente. Desejamos o tempo todo uma outra vida, diferente da que temos e da que podemos ter, uma vida de sonho e perfeição que em nada lembre nosso presente e que seja também, diferente do passado.
Quem jamais se arrependeu de uma decisão, de uma palavra dita, uma escolha equivocada, de um caminho tomado?
Isso me leva a uma reflexão, a um exame de consciência, sobre como vivi, como vivo e como gostaria de viver.
Dessa forma ficou tudo muito claro diante de mim e assim percebi que os erros de minha vida foram somente meus e as coisas aconteceram devido a caminhos que optei percorrer e principalmente: foram o resultado de uma conduta que me parecia correta, mas que não era a melhor, nem a pior escolha, mas a que me pareceu mais adequada nos diversos momentos em que vivi, sem pensar em conseqüências, no futuro e na construção de algo sólido e verdadeiro.
A partir da minha vida solo as coisas começaram a depender apenas de mim e protagonizei todos os espetáculos, trocando sempre de papéis, sendo vilã e mocinha, culpada e vítima, amiga e inimiga, boa e má, mas precisei viver dos dois lados do muro, mesmo em cima dele, para saber onde era o melhor lugar e onde eu queria estar.
Confesso que existiram dias longos, tristes, sombrios em que tentei mesmo desistir de tudo e outros mais felizes, mas sempre uma sensação de vazio, de falta, de solidão denunciavam que coisas deixaram de ser feitas, entendidas, vividas, merecidas, conquistadas.
Foram todos esses anos de batalhas entre minhas vontades e meus limites e ainda não posso decretar um vencedor e nem sei se u dia haverá vitória.
É tudo muito relativo... mas de certa maneira isso é bom, simplesmente bom, pois ainda há vagas para eternas mudanças e que sejam elas sempre para melhor.
As paixões mundanas são as maiores vilãs de minha vida, me seduziram e me conduziram por caminhos tortuosos, dolorosos e dentre as que mais me cegaram, está indiscutivelmente o amor que foi palco pra vida e morte, espetáculos de horror, falsa felicidade e decepções sem fim.
O homem é um viciado em prazeres!
O homem busca sempre o prazer, pelo sexo, pela comida, pela bebida, pelo conforto, pelo bem estar, por sensações com as mais variadas facetas e nem percebe que é simplesmente o que ele busca: o prazer para de certa forma estar simplesmente bem.
Como boa humana que sou, fui caindo nas armadilhas, pelos caminhos que segui buscando os meus prazeres, sendo incapaz de detectá-las ou assumi-las preferindo ignorá-las vendo e aceitando tudo como absolutamente normal.
Mas o que é normal?
E o que á anormal?
São conceitos e preconceitos convencionados por civilizações que se reconhecem como racionais e nem percebem o quanto de primata há em cada um.
Quantos instintos meramente animais ainda guardamos e surpreendentemente usamos e usaremos por muitas gerações?
Um dos instintos, talvez o mais selvagem que ainda nos faz muito mais animais do que homens racionais é o sexo, a necessidade fisiológica que nos torna dependentes quase químicos daquele prazer gerado por um ritual animal.
Dois corpos em frenesi absoluto, se contorcendo, se invadindo. O suor, a respiração ofegante o grito surdo de um orgasmo, o cheiro...
Tudo remete à animalidade que conservamos em cada um de nós, por mais que tentemos fazer amor, acabamos fazendo sexo, só o sexo, aquele que é produto da nossa necessidade animal de prazer, reprodução, sobrevivência da espécie ou seja qual for a finalidade que usaremos como desculpa racional e civilizado, no final é só isso e tudo isso.
Em nossos arquivos mais secretos, sabemos que um dia, ou em vários dias fizemos alguma coisa da qual não nos orgulhamos muito devido à nossa necessidade animal e irracional de receber prazer.
Sou humana, desprezo minha parte animal, mas é um instinto natural acima de qualquer convenção, que sobrevive e cada vez mais quebra tabus, ganha mercado, se vende em balcões, ou se ganha em qualquer esquina.
Às vezes eu penso que gostava mais quando era criança e estava alheia às verdades do mundo adulto, porque eu acreditava no amor e hoje acho que ele é um rótulo fazendo parte de uma propaganda enganosa na qual ainda prefiro acreditar, mesmo sabendo que enquanto eu sonho como quando tinha 12 anos, aquela pessoa que eu amo, que diz também me amar, está curando seus instintos com qualquer animal como ele, vendendo o mesmo falso amor que me faz negar minha animalidade, porque eu acredito no amor, mesmo sendo fruto da minha adolescente imaginação!