Seleção, Fórmula 1 e Educação
Seleção, Fórmula 1 e Educação
Jorge Linhaça
Eita fim de semana agitado!
* Murici recusa cargo e Mano Menezes é o novo técnico da seleção brasileira de Futebol.
* Felipe Massa tira o pé e deixa Alonso ultrapassá-lo
* Seleção de Volei é campeã, pela nona vez, da Liga Mundial
* Índices de educação revelam rendimento aliado à disparidade social.
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Pode parecer que são assuntos distintos e, em parte o são, mas também tem as suas ligações, nem sempre tão claras a quem olhe superficialmente o que ocorre.
Não é segredo para ninguém que sou fã de Murici Ramalho, não apenas pela sua incontestável capacidade de dirigir times de futebol , mas por sua postura às vezes mal interpretada.
O que pode parecer uma loucura, negar assumir a seleção brasileira, sonho de consumo de quase todos os técnicos brasileiros, demonstra apenas a opção de Murici em manter a sua palavra e integridade.
Claro que torci para que o Fluminense o dispensasse de seu compromisso como técnico do tricolor carioca, para mim Murici seria a melhor opção de comando para a seleção brasileira neste momento.
Como o Flu não o liberou de seu contrato, Murici assumiu a postura de sempre, optou por cumprir o compromisso assumido com o clube. Mais do que uma postura profissional, uma questão de caráter.
Claro que Murici faturaria muito mais alto sendo técnico da seleção, isso apenas sendo garoto propaganda, sem contar os salários, mas para ele vale mais a palavra empenhada do que o dinheiro envolvido.
Já Felipe Massa preferiu preservar o seu salário de um milhão de reais mensais do que desobedecer as indicações da Ferrari de que seria melhor para a equipe que Alonso ganhasse o grande prêmio da Alemanha. Postura oposta, em certa parte à de Murici, mas já costumeira dos pilotos brasileiros contratados pela escuderia. Rubinho sofreu do mesmo mal quando pilotava ao lado de Schumacker.
A seleção masculina de Volei segue tendo a cara de Bernardinho, trabalha com seriedade mesmo quando peças são trocadas, o compromisso é a palavra chave para cada atleta de nossa seleção campeã.
Já a nossa educação permanece também comprometida, parece haver um compromisso tácito em não educar qualitativamente aos alunos das escolas públicas . Claro que há algumas honrosas exceções mas, o quadro geral é mais do que preocupante, a disparidade entre os resultados apresentados entre alunos de escolas públicas e particulares demonstra bem a incapacidade do estado em gerir uma educação de qualidade para nossa juventude.
Alguns motivos são bem conhecidos:
* Salários defasados do professorado
* Excesso de alunos em sala de aula
* Faculdades que não preparam os professores de maneira efetiva
* O fato de os professores dobrarem as horas de trabalho pois não são pagos pelas horas que gastam preprando aulas, corrigindo provas e preenchendo à mão os arcaicos diários de classe em plena era da informática. Ilude-se quem pensa que o trabalho do professor de encerra com o último "sinal" do período, muitos, movidos ainda por algum idelismo e responsabilidade ( ainda há o mito de que educar é um sacerdócio) avançam noite adentro preparando aulas, corrigindo provas, pesquisando material na internet, etc.
* A famigerada promoção automática que imprede os alunos de "repetirem de ano" e que tem apenas a finalidade de maquiar os crescentes índices de reprovação que haviam nas escolas antes dessa "solução" de gabinete.
Obviamente não existe interesse em educar apropriadamente o cidadão, já que um cidadão adequadamente preparado e consciente, torna-se perigoso para os que desejam perpetuar-se no poder...melhor deixá-los "emburrecidos" e diplomados.
Na sala de aula, a consciência de que não podem ser reprovados leva os alunos a uma quase completa inapetência para o aprendizado, afinal, aprendendo ou não teem o seu "diploma" garantido, bastando para isso que não faltem às aulas.
Claro que isso está profundamente ligado ao crescente número de descalabros praticados pelos alunos que praticam agressão verbal e física contra outros colegas e contra os professores, depredam o patrimônio público e consideram-se os donos do pedaço criando "Familias" ;"Bondes" ; "Turmas" ou "Gangues" que se enfrentam dentro e fora do ambiente escolar.
Sucedem-se os secretários de educação mas mantem-se o mesmo discurso já que secretário de educação é cargo político e, geralmente, ocupado por teóricos da educação que jamais pisaram em uma sala de aula real na periferia.
A distância entre as exigências desses teóricos e a realidade dos professores é Quilométrica , afinal , uma coisa é atuar num gabinete com ar condiconado, puxando o saco do prefeito ou governador, e outra é voltar para casa exausto e cheio de trabalho para realizar.
Uma coisa é viver cercado de puxa-sacos ansiosos por uma boquinha e outra é viver cercado de alunos que não dão a mínima para a figura do professor e por pais que se acham no direito de criticar aqueles que pretendem manter um mínimo de disciplina nas escolas.
Aliás, se os pais estivessem preocupados com a educação de seus filhos e não com a simples aquisição dos diplomas e por certo haveriam de seguir o caminho contrário ao que seguem hoje em dia. Deixam-se iludir pela propaganda governamental e acham que a culpa do pouco aproveitamento de seus filhos é dos professores. Aliás, já passou da hora de os pais pararem de pensar que o papel de fazer seus filhos obedecerem e respeitar aos outros é da escola. O fato de eximirem-se de fazer a sua parte , é também fator preponderante para que as coisas estejam no estágio atual.
A situação é tão alarmante que, mesmo as escolas particulares, acabam por ter sua qualidade comprometida. Comparando os melhores resultados das nossas escolas particulares com as piores escolas públicas de países comprometidos com o ensino, estas estão tão abaixo do desempenho daqueles quanto os alunos de nossas escolas públicas do rendimento das particulares. Por aí podemos ter uma idéia de quanto a escola pública brasileira precisaria melhorar para ser considerada uma escola de qualidade.
Enfim, a palavra chave para compreenderem minha crônica é " compromisso"... afinal é de acordo com aquilo a que estamos realmente comprometidos que tomamos nossas atitudes e fazemos nossas escolhas. É de acordo com a formação de nosso caráter que exercemos o nosso livre arbítrio.
Como a família atual relega tal função à escola e a escola não tem , devido aos descalabros dos governantes, condições de trabalhar seriamente, criamos uma nova geração de despreparados para a vida, que passam a crer que para obter qualquer coisa basta estarem presentes em algum lugar. Pior que isso não vem de hoje , são sucessivas gerações a sofrer do mesmo mal e perpetuar um modelo que não favorece um aprendizado real.
Como mudar esse quadro?
Sinceramente o único caminho seria que os pais tomassem consciência da realidade e , ao invés de irem fazer cobranças aos professores porque seus filhos não apresentam evolução, "caissem de pau" nos secretários de educação e governantes.
Bem, este é um ano eleitoral, vamos ouvir as mesmas estatísticas mentirosas, principalmente sobre as "melhoras" nos índices de aprovação em São Paulo...mas não vão falar de todos os problemas da falta de aprendizagem...a população inerte vai aplaudir o fato de os filhos serem catapultados para as séries seguintes sem o menor preparo, apenas para receber seus diplomas, ainda que saiam do segundo grau incapazes de interpretar um texto ou fazer uma redação.
Está na hora de resgatar o compromisso do povo consigo mesmo e botar para fora os que perpetuam a ignorância de nosso jovens.
É hora de escolher se preferimos uma geração de Muricis ou de Massas...pessoas que sabem manter compromissos morais com eles mesmos e com os outros ou que apenas querem manter ou obter vantagens futuras sem se importarem com quem possam prejudicar.
Abraços fraternos
Jorge Linhaça
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Arandu, 25/07/2010