A casa encantada ( EC)

A casa encantada (EC)

Era uma casa muito encantada...

Não era propriamente uma casa. A meu ver era um gigantesco coração. Um amplo castelo das nossas alegrias. A casa que eu morei, dos avós maternos era exatamente assim. Não muito grande fisicamente, um pátio, um pequeno quintal onde fazíamos as reuniões musicais e meu avô cultivava suas ervas curativas. Mas sempre, sempre até a morte do avô foi um lugar oficial de filhos e noras, genros, netos, vizinhos e amigos. Um ponto de encontro fiel e diário. Todos os dias alguns tios, tias, primos, vizinhos concluíam o dia por lá, no famoso café de fim de tarde, era a hora que os irmãos se reuniam, os primos se curtiam, muita barulheira e farra geral.

Lá também vivenciávamos festas freqüentes, tudo consistia em motivo de comemoração, com muita música e comilanças. Os inícios de noite, não raro eram regados ao som de bons: violão e cavaquinho, os tios todos tocavam e ficávamos no quintal cantando e tocando, sem motivos aparentes.

Fim de semana ou outro tinham as famosas “Serestas”, regadas a muito som de viola, burburinho, alegria. Como parecíamos um grande clã de Italianos, as brigas de “casal” dos tios e tias iam findar lá, onde o avô ia dar o veredicto final, ralhar e apaziguar. Um misto de “A Grande Família e Balança Mas Não Cai”.

Adorável tempo, de esperanças e risos, tristezas comum, a casa das lembranças.

No Círio de Nazaré, todos íamos ao grande cortejo e na volta o regalo do almoço era lá. Vinham primos de toda ordem, aqueles que sempre estavam juntos e os mais distantes, vinha minha mãe do interior com o irmão, uma grande e calorosa confraternização que se estendia pelo dia todo.

Nos dias comuns, eu não compreendia como a avó conseguia fazer um tanto “X” de comida, a comida saborosa e cotidiana, e ao longo das horas iam chegando, filhos, namoradas dos filhos, filhas, genros, noras, netos aos poucos e aos montes e a comidinha ia se multiplicando, multiplicando e todos comiam e comiam bem. Efeito secreto e multiplicativo da comida e do amor do coração da avó. Isso nem precisava ser no domingo, quando ela fazia algo mais especial, simples, porém de sabor inigualável.

Eu fui uma tonta, que a vi cozinhar dia após dia, até ajudava no cortar dos temperos, mas não aprendi seu paladar cheio de sutis delicadezas. Vi também costurar muito, usei muito de suas modas, era minha costureira particular, fazia roupinhas para quase todas as netas, outro dom que não herdei, nem aprendi.

Mas fui feliz com eles, e sou feliz com suas memórias. Foi um tempo bom. E adivinhem de quem era essa casa, esse castelo, esse lugar acolhedor e especial?

Casa dos avós.

Meus avós.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Dia dos Avós

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Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 26/07/2010
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