Um dia na Savana
Eu Leão me vi deitado na minha bela savana, aspirando o vento que cortava a estepe... “Quanto esforço fiz neste dia pela minha caça: espreitei, me agachando sorrateiramente pelos arbustos, deixei meus filhotes solitários à mercê de um ataque inimigo... Eu nem queria matar aquela pobre gazela, mas eu tenho que comer e alimentar a minha cria... Fiz várias investidas, fracassei... Fui coiceado por elefantes e girafas, minha vida não é fácil... Minha juba coça sem parar, muitos parasitas vivem nela e vários insetos me amofinam pousando em meus lombos enquanto descanso. Eu gosto de me lamber nas horas vagas...”
E assim fui, carregando a carne para os meus filhotes.... Mas, querem roubar o meu almoço e dos meus pequenos, “me cutucam com vara curta”. Eu não quero brigar, estou cansado do dia da caça: tanta correria por aí, o sol escaldante, pouca água. Estou arfando ao chegar, mas os outros animais querem ver se o seu rei e rainha são realmente capazes: “Estão me chamando pra briga... Ahhhh, eu só quero ficar aqui me lambendo, brincando com meus filhotes e mastigando o resto da carcaça que consegui no almoço: -Pobre gazela!”.
Amanhã farei outra vítima, mas tenho que me alimentar...
Sabem, não sou como os humanos, mato pela sobrevivência, não por ódio, vingança, não sei o que é crime premeditado ou esses torpes sentimentos que rondam o coração de vós humanos, apenas quero me alimentar e a meus filhotes, dar seguimento a cadeia alimentar, e eu estou no topo dela, “Que alívio ninguém comer leões e leoas nesse nosso grupinho da savana...”
Então estou aqui na minha sombrinha, descansando, meus filhos ao meu redor, mas “insistem em me cutucar com vara curta”, eu já avisei: “Sou bravo, estou na minha hora de descanso, mas sou bravo”, e continuam... Me perturbam, me desafiam e dizem: “Leãozinho, leãozinho, este bicho não está com nada”, “Ei vocês! São leões ou são gatinhos?”. A implicância continua...
“Ai que chato, estou limpando minha enorme pata suja de sangue ainda, não quero bater em ninguém, estou descansando meu almoço, um caça tão nutritiva.” Me lambo, que banquete!
Mas eles querem me ver rosnando:
E depois que eu levando, urro, grunho, sacudo-me, firo até, dizem de soslaio com suas bocas tortas: - Leão mais ignorante, a gente não tava fazendo nada com ele, nem queríamos que atacasse. E ele veio assim, como uma locomotiva para cima de nós só porque tiramos a carne daquela gazela morta idiota da boca dos seus filhotes. O que fizemos de mais? Aí vem ele, louco, nos enche de patadas, unhadas e mordidas. Só por isso. Apontamos nossas armas para ele e ele só por causa disso correu atrás da gente, mas que bicho agressivo...
Vamos voltar com mais armas e matar esse bicho horrendo e violento.
...E esse é só mais um dia na savana...
...E esse é só mais um episódio de nossas vidas... Quase todos dias somos leões e leoas do asfalto.
Estamos quietos, mas sempre tem alguém querendo nos tirar da nossa paz, e quando nos defendemos somos felinos grosseiros, animais.
Então não sei mais o que pensam os seres humanos, aqueles mesmos que me cercam todos os dias...
Onde está a gentileza, onde está a sublimidade, onde está o amor?