DIA DE BATIZADO

Igreja cheia. Sou convidada do Otávio Augusto. Portanto, vamos lá! Mais de 15 brasileirinhos, entre mocinhas e mocinhos, vão ostentar um belo nome oficialmente instituído pelos ritos católicos do batizado. Caos geral! Uma miscelânea de sons reverbera pela nave. Tudo junto e misturado. Adultos falam em voz alta, pequerruchos abrem um berreiro de uma só vez. Linda sinfonia de choros! Essa parte é boa! Maestro nenhum conseguiria reger. Um cachorro feliz abana o rabo e corre de um lado para o outro.

O padre resolve dar um basta. Que falta de respeito é essa? Pede silêncio aos grandinhos e desculpa os pequeninos. Entende que eles chorem. Lógico. Longe dos bercinhos, sem mamar. Quem aguenta isso? Sem contar que seus figurinos lhes deixam de bracinhos e perninhas de fora. Ô, e faz frio pra caramba! Mas Mamãe não pôs manto nem touca. Tais peças empobrecem o visual. E hoje eles têm de estar impecáveis. Afinal, todos vão tirar fotos para o álbum, não vão?

Lindos também os padrinhos! As madrinhas então... Vestidos colantes, chapinha e salto alto. Orgulhosas, seguram os afilhadinhos. Ser madrinha é uma grande honra, tão pensando o quê? Destaca a pessoa entre parentes e amigos. Existe até uma briga interna sobre isso. Todo mundo curioso “E os padrinhos? Já escolheram?”. No fundo o curioso tem apenas uma remota esperança: a de ser o escolhido...

Lista enorme de candidatos a batizados. Crachás revelam Bryan, Davi, Gabriel, Jhonatan, karolaine, Miguel, Maísa, Sacha (Sacha? Alguma coisa a ver?), Stefany, Yuri, e por aí vai. Quase o alfabeto inteiro. Sem deixar pra trás o nosso Otávio, é claro. Cantos, velas, água, óleo e sais. Seguidos à risquinha os passos ritualísticos! O simbolismo? No momento não cabe especificar. O importante é que a moçadinha vai sair diferente: sem o estigma de “pagão”. Ser pagão não é nada bom, os entendedores advertem. Em caso de alguma desventura (no caso, é morte mesmo, ui!), a criança não entra no céu, tá? É mesmo? Ah, deixa pra lá...

Já os pequenos discordam. Protestam bravamente do jeito que sabem: chorando. O cachorro já escolheu: está do lado deles, a parte oprimida. Olha o padre com cara de poucos amigos e late muiiiiiiito! Os latidos ecoam. Todo mundo desconcentrado. Inclusive eu. Puxa, que cachorrinho simpático. Que raça é essa? E como late forte! Com um latido assim, adeus ladrão no quintal. Quem sabe consigo levá-lo pra mim? A não ser que já tenha dono. Vai ver é convidado de um dos fofuchos batizados... Late assim com certeza em defesa dele...

Enfim, a bênção final. Ninguém consegue mais disfarçar a fome. Num minuto, a igreja vazia. Seguimos para um sítio. Delicioso almoço com bolo e tudo. Fato estranho: o Tavinho tinha cinco convidados na igreja. Mas no sítio uma pequena multidão o espera. Pois é, e ninguém lhe dá também a devida importância. Todo mundo na cervejinha. Mas Otávio Augusto também não tá nem aí. Quem é que liga pra cerveja e convidado? Quer mesmo é tomar sua sopinha de abóbora com feijão. Todo lambuzado dá risadinhas a torto e a direito. Agora, sim, tá felizão! E com razão “Vou te contar, dia de batizado é fogo, gente!”. Isso quem diz é o Tavinho, viu? Ele ainda não fala, mas tô vendo nos olhinhos dele...