É NISSO QUE DÁ...
O pioneiro em transportes coletivos, lá na minha Santiago, foi um afrodescendente de bom porte, digamos assim um negão pesando próximo dos 120 Kg com mais ou menos um metro e oitenta de altura, de nome Bombardo. Seu primeiro empreendimento no ramo, foi uma linha de ônibus entre os municípios de Santiago e Jaguari, cuja distância de uns 45 Km eram percorridos em uma mal conservada estrada de chão, rodados em um coletivo antigo, daqueles que possuem na parte superior uma grade onde é depositada a bagagem, e com o motor na frente.
O detalha mais importante era a existência de três tipos de passagens com valores diferenciados. Para a primeira classe eram destinados os melhores lugares, aqueles situados na frente e nas janelas, a segunda categoria de passageiros ficava pelo meio do veículo, onde as sacudidelas eram um pouco maiores, e a terceira localizava-se no lá fundo, seu valor era o mais barato, porém com duas desvantagens: os solavancos eram enormes e em caso de chuva, se por ventura viessem a cair em um atoleiro, seriam eles os encarregados de empurrar para desatolar.
Mais tarde veio a adquirir um carro de praça, nome dado aos táxis da época, encarregando o seu filho de trabalhar como motorista.
A estação férrea, hoje desativada, fica em uma baixada, sendo necessário subir uns íngremes quinhentos metros de rua até chegar a uma avenida preferencial.
Num verão com calor de 35 graus à sombra, quase ao meio-dia, vinha o Bombardo subindo a ladeira, quando lépido e faceiro passou por ele seu filho dirigindo o flamejante Dodge 54, quatro portas, e sem passageiro. Olhou, deu uma abanada para o pai e foi embora.
Quase uma hora depois ao chegar em casa, que não era muito perto, suando em bicas, encontra o rapaz já almoçado e pronto para uma sesta, ainda bufando por brabo e pelo cansaço, pergunta aos gritos:
- Por que tu não parou prá me dar carona?
- Ordens suas meu pai: “NUNCA ME DE CARONA PRÁ NEGRO”.
E é verdade.