Enfim compreendeu

Natália sempre foi ouvinte de suas amigas. Nunca buscou esta função, mas naturalmente aconteceu. Antes mesmo que pudesse dizer não as pessoas. Enquanto a garota ouvia, milhares de pensamentos passavam por sua cabeça. Quando ficava sozinha, relembrava tudo, ou o que mais lhe chamou atenção. E ficava refletindo sobre aquelas vidas, muitas vezes diferentes da sua. Pensava: porque somos tão distintos uns dos outros ?

Com o tempo, começou a perceber que algumas de suas amigas, de tão diferentes, lhe faziam mal. Natália começou a sofrer por não compreender tais amigas. E sentia-se mal, ruim, inconformada consigo mesma. Jamais deveria sentir-se daquele jeito. Seu papel era ouvir. Ouvir sem julgar, criticar. Pelo menos era o que imaginava. Em uma conversa com sua mãe revelou seus sentimentos. A mãe disse:

- Filha, seu problema é que está julgando a si mesma. Talvez devesse não se preocupar com o que você sente ou pensa após ouvir seus amigos. Não pense em você!

É claro que para a garota, de 12 anos, no momento, o que a mãe lhe disse não serviu para nada. Ou, foi o que Natália imaginou na sua ansiedade pré adolescente. Queria que toda aquela sensação horrível se esvaisse, de uma hora para outra. Fato que não ocorreu.

Porém, com a maturidade, e com cada vez mais prática em ouvir, percebeu que quem estava sendo ouvido, pouco se preocupava com julgamentos. Apenas precisava daquela presença que gerava segurança. Precisava desabafar para não surtar. Para diminuir o sofrimento. Tudo tratava-se da própria pessoa e não de Natália.

Conseguiu perceber isto quando entendeu como as pessoas podem ser egocêntricas. E neste mesmo momento, foi muito simples notar o que significava:

- Não pense em você!

Ela estava sendo terrivelmente egocêntrica. Sofria não pelas outras pessoas mas por estar ouvindo coisas que não se pareciam em nada com o que ela sentia, coisas com as quais ela não se identificava. Era isto que ela não queria. Queria apenas ouvir o que se assemelhasse a si mesma. Para se sentir especial, lembrada, presente. Até mesmo nos problemas e dores alheias.

Bia Guti
Enviado por Bia Guti em 25/07/2010
Código do texto: T2399534
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.