Aluga-se um coração
Entre os classificados do jornal de domingo lá estava um insólito anúncio, que não oferecia carro, apartamento ou computador. "Aluga-se um coração", era a singular mensagem acompanhada do número do telefone para tratar do negócio. De quem seria esse coração? A pessoa que anunciou estaria com problemas cardíacos e, ao invés de esperar na interminável fila dos transplantes buscou um meio insólito de conquistar o almejado órgão? Não. Talvez não fosse alguém buscando, mas sim, oferecendo o seu coração. Poderia ser por falta de uso ou, quem sabe, tivesse trocado o seu convencional por um modelo sintético e mais avançado, o qual não incluía os inconvenientes defeitos de se apaixonar e deixar a insensatez gerada pela flecha do cupido dominar a razão e a emoção, fazendo com que seu portador se lançasse em aventuras tresloucadas do tipo que se vê em filmes açucarados.
"Aluga-se um coração". Lá estava o anúncio. Preto no branco. Frio. Insólito e inédito. Instigante e desafiador. Seria um coração alado, avoado, desesperado, descompassado, abobado, desapaixonado, sonhador, aventureiro, atrasado, sincero, inocente, sacana, quebrado, magoado pronto para ser atravessado pela lança do desamor? Ou apenas pura carne, músculo, veias e sangue? Esse coração estaria em bom estado, sem vestígios de antigas paixões, marcas indeléveis de desilusões e desencontros, ou simplesmente fosse um coração que não soubesse amar. Não! Não existe coração que não saiba amar, mas sim, aquele que não queira amar. Já aí, se entenderia a razão do classificado. Um coração que não ama não tem razão de continuar batendo. Alugue-se.