A extinção das pizzarias

Tenho visto cada dia mais as tele-entrega de pizzas. E fico triste com isso. Claro que ainda existem muitas pizzarias onde podemos ir jantar com a família, mas isso são dias contados. Estão acabando. Não por iniciativa dos comerciantes, mas por falta de clientes.

Comer as pizzas nas pizzarias está virando um hábito antigo, superado. Estamos mudando nosso estilo de vida, agora preferimos pedir por telefone ou internet e recebe-la em casa e comer ali mesmo, sem arredar os pés, sem nos expor aos riscos de violência.

Quem tem filho pequeno está perdendo uma grande oportunidade de permitir aos pimpolhos a arte de se relacionar. Estamos ensinando a nossos filhos, novo modelo de comportamento, cada vez mais individualista, cada vez mais recluso, cada vez mais encapsulado e blindados em nossas casas.

Crianças pequenas, ao se chega com eles em um local público, como em uma pizzaria, ficam inquietas e começam a circular entre as mesas. Em alguns minutos já terá feito amizades com outras de suas idades. Mais um tempo e estarão trocando brinquedos. Há seu eu tivesse o desprendimento de uma criança de 4, 5 anos!

Com isso elas aprendem a interagir, aprendem a comer em restaurantes, aprendem a respeitar outras pessoas, aprendem a conviver, aprendem a conquistar novas amizades, aprendem a convivência social. Aprendem a não ter medo de gente. E estamos tirando-lhes estas oportunidades. Não por egoísmo, mas pela mudança natural dos tempos e do comportamento social humano.

Em nome da segurança, da comodidade, da falta de tempo, e de outras tantas justificativas, não estamos mais saindo com nossos filhos para a rua, não os deixamos mais brincar na areia, na terra. Temos os melhores jogos educativos na internet, temos o conforto e a segurança de nossa casa. Temos os delivery que nos trazem a comida pronta, quentinha, sem que precisemos nos dar ao trabalho de sair de casa e nos expor.

Mas uma vez a pizza entregue em casa, nem sempre se comem juntos. Uns comem quando dá, outros nem comem... “Guarda meu pedaço, assim que der eu vou comer”. A integração está comprometida. O modelo social é outro, os valores são outros.

Ainda se vê algumas famílias que valoriza fazer as refeições à mesa, juntos. Mas isso está a cada dia escasseando mais.

A era hitec tomou conta de nossas vidas. E isso não tem volta. É uma nova era que se instalou, substituindo definitivamente o tempo em que se convivia, se tinha tempo para sair para jantar em família. Que se ia na pizzaria no sábado à noite.

Fico intrigado com isso, sou um resistente. Não é possível que só eu estou vendo o prejuízo que nos faz, a falta de convivência, o jogar conversa fora com os amigos, com os filhos e com os pais. Será que sou um cabeça-dura que não aceita a modernidade? Não é bem isso. Aceito sim, é um ganho fantástico a nosso favor. Eu apenas lamento a perda dos valores humanos, sociais e cultrais que está nos acontecendo. Está rápido demais, para ser assimilado passivamente sem reclamar.

Dia desses, ouvi a entrevista de um especialista e vou reproduzir aproximadamente a pergunta e a resposta:

Pergunta: As crianças não sentem falta dessa convivência cada vez mais escassa? Resposta: Não se sente falta do que nunca teve.

Isso me deu um frio na barriga. Estamos dando adeus a um monte de valores que para mim, para meu tempo era fundamental e insubstituível.

Por um lado, fico na angustia por ver morrer progressivamente esses valores. Por outro lado, visualizo as gerações futuras com referencial completamente diferente do meu, que sou nascido na década de 50. Não sentirão falta de brincar de bete na rua, não saberão o que é brincar com bolinhas de gude, nunca ouviram falar de tantas coisas que acompanharam o nosso nascimento e formação. Não saberão o que é uma pizzaria.

Não sentirão falta, pois nunca tiveram. Não conheceram. Certamente se mostrado como era nosso tempo, darão boas risadas das coisas “arcaicas” que tínhamos a nosso dispor.

Cabe a mim e tantas outras pessoas da era da transição, nos despedir desses recursos, dessa cultura, por assim dizer; sentir calado e passivamente o efeito das drástica mudança de padrão social e cultural, sentindo uma saudade danada e ao mesmo despedindo de tantas coisas importantes que tínhamos, que nos faziam felizes, como por exemplo ir jantar em uma pizzaria com a família em uma noite de sexta-feira.

E o pior de tudo: Temos a absoluta certeza que o novo modelo que se impõe não deixam as pessoas mais felizes, mais unidas, não prestigiam a amizade nem a cooperação. O novo modelo abastece as pessoas de toda sorte de conforto e tecnologia. E só.

Posso estar exagerando, eu sei. Mas estou manifestando o meu sentimento nesse momento. Sentimento de um leigo em comportamento humano.

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 25/07/2010
Código do texto: T2398504
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