ZEBEFÊ

 

- Zebefê? O que significa isso?

- Sei lá. Parece coisa de louco.

- Onde é que você viu essa palavra?

- Aí em cima, no título.

- Eu sei, seu burro, quero saber antes do título.

- Ah, deve ser coisa da cabeça de minha mãe.

- Também acho. Sua mãe parece que é meio pirada.

- Meio? É pirada inteira.

- Mas deve ser legal ter uma mãe pirada.

- Sai fora, cara. Já to ficando pirado também.

- Já pensou numa casa onde todo mundo é pirado?

- A minha casa, cara.

- Mas, vamos parar de falar em pirado e descobrir o que é Zebefê. Vai lá, cara, e pergunta pra sua mãe.

- Tá louco, meu? Não to a fim de ouvir história agora não. Vai lá você.

- E vou mesmo. Acho sua mãe o maior barato.

- Nem vem, cara. Minha mãe não é nenhum sapatão. Retifica aí: maior barata.

- É verdade que o livro que ela escreveu já é sucesso no exterior?

- Sim. No exterior de casa.

- Pô, cara, você é sádico.

- Brincadeirinha, meu. Sou o maior fanzão da minha mãe. Olha ela chegando. Mãe, o Zé quer saber o que significa “Zebefê”.

- Não acredito que não saibam.

- Tá todo mundo curioso pra saber o que é Zebefê. Onde é que você arrumou essa palavra?

- Não arrumei, já estava arrumada.

- Deixa de brincadeira, mãe, e conta logo.

- Conto, mas só depois que me contarem aquela história da banana.

- Que banana?

- Do menino de rua.

- Que menino de rua?

- Que o Fernando fingiu ser.

- Ah, quem te contou?

- É segredo.

- Aposto que foi o Beto.

- Errou.

- Quem foi então?

- Já disse que é segredo. Afinal, vão contar ou não?

- Vai Zé, conta aí.

- Tá bom, vou contar. Aconteceu o seguinte: eu tinha acabado de dar uma aula de basquete lá na Portuguesa e então resolvi ver a minha “Gata”. Acontece que o pai da menina, não quer me ver nem pintado de ouro. A menina não pode falar comigo nem por telefone. Quando ligo lá ele diz que ela não está e que é pra eu parar de encher. Resolvi contra-atacar. Decidi que ia falar com ela de qualquer maneira. Então bolamos o seguinte plano: o Fernando ia fingir que era um moleque de rua e ia lá pedir alguma coisa pra comer e assim descobriria se ela estava em casa ou não.

- Muito bem, e daí?

- Daí... conta o resto Fernando.

- Bom, daí tirei a camiseta, o chinelo e fui até à casa da menina. Bati na porta e ela veio atender. Fingi que era um moleque de rua e perguntei se ela tinha alguma coisa pra dar.

- Mas ela não conhecia você?

- Não.

- E daí?

- Daí pediu pra eu esperar um pouco. Entrou, voltou com uma banana

 e disse:

- Olha, só tenho isso.

Agradeci e voltei para o quarteirão de cima, onde o Zé e o Beto me esperavam e então fizemos a festa. Em seguida o Zé ligou pra casa dela. Ela atendeu e ele disse:

- Muito obrigado pela banana que você me deu.

- Não estou entendendo o que você quer dizer. O que significa isso? – ela perguntou.

- Você não acabou de dar uma banana pra um moleque de rua?

- Sim, e daí?

- Aquele menino não é nenhum moleque de rua. É meu amigo. Apenas fingiu pra ver se você estava em casa. Por que é que você desapareceu?

- Depois te conto. Agora tenho que desligar. Meu pai está entrando.

E desligou.

- E o Zé, o que fez?

- Ficou revoltado, xingou o pai da menina, disse que ele era o maior salafrário, e que qualquer dia acertava a cara dele. Aí o Beto falou:

- Acerta nada, Zé, você é um panacão.

- O Zé ficou furioso e disse que “panacão” era o pai dele. Aí, pra parar com aquela discussão, chamei eles pra gente ir jogar bola. E a gente foi. E foi só isso. Agora conta, mãe, o que é ZEBEFÊ?

- Ainda não descobriram?

 

 

Do Livro: “Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas” – Pág. 93