SÓ
Contrito, cerraria as mãos para agradecer a Deus, se lhe fosse dado a saber da existência de um só amigo ...
Levado pelos prazeres e os deveres no decorrer de seus anos, não reservara mínimas horas para cultivar um jardim de inverno, de maneira que, vinda a estiagem, pudesse colher flores em seu interior.
Recorda-se agora de faces e de corações dóceis, cujas vozes meigas e demonstrações de apreço desdenhava, rejeitava, repudiava em troca de vis riquezas e de deleites passageiros. Desprezou, assim, amizades e desconheceu valores inestimáveis, por tanto tempo, enquanto o sol raiava sobre sua insensatez.
Os dias anoiteceram, seus bens se converteram em recordações com arrependimentos e, solitário, sofre. A florada artificial agora se resume a um punhado de espinhos.
Tarde demais! Hoje, sonha despertar do pesadelo de seu passado para colher lírios simbolizados por um abraço amigo.