Mulheres de Terra
Mulheres de terra
Suzy Monteiro
As mulheres são feitas dos mais variados elementos. E, sabe-se Deus porque, por nascimento ou missão, são escolhidas por eles e adquirem suas características, carregando-as por sua existência. Umas são do ar e flutuam pela vida, leves, quase imperceptíveis, mas, ao mesmo tempo, tão intensas que conseguem se tornar essenciais. Pessoas sem as quais não se pode viver. E marcam histórias justamente pela capacidade de serem invisíveis quando necessário e vitais todo o tempo.
Existem também aquelas da água, envolventes, acolhedoras, que, no entanto, se tornam frias ou quentes, de acordo com o horário do dia ou o nível da maré. Mudam também de gosto: hora doces, hora salgadas, por vezes agridoces. Acarinham o corpo, amaciam, lavam a alma. O menor descuido, porém, pode ser fatal.
Algumas tantas são fogo. Explosivas, intensas, incendeiam, enlouquecem. Podem provocar uma devastação imediata, acabar com o futuro. E também podem significar o calor da lareira em noites frias de inverno. A comida gostosa no meio do dia, o sono tranqüilo, mesmo estando na rua, sem teto seguro.
E existem aquelas que são de Terra. Firmes e sólidas e, nem por isso, áridas. Sustentam as árvores para que elas retirem seus nutrientes e dêem frutos. Só a fé é capaz de removê-las quando tudo está indo em direção contrária. Ficam ali. Servindo de alicerce, de morada. Utilizadas sem permissão, mas sabem que para isso foram criadas. Para que todo o restante da natureza pudesse sobreviver e crescer e frutificar. E depois, quando chega o dia final, ali repousarem buscando o sono dos justos, que é igual para os injustos e para os nem tanto.
Essas mulheres de Terra invejam a leveza daquelas do ar, a necessidade que elas imprimem por onde passam. Também o gosto daquelas da água, capazes de mudar sem prévio aviso. Como ondas, virar e ir embora, arrastando o que tiver pelo caminho. E as explosões das do fogo, o enlouquecimento provocado, os sonhos calorosos. Mas as mulheres de Terra também são racionais e distinguem o impossível. Ficam observando as outras, sem se dar conta, que delas próprias surgem a fertilidade, a perpetualidade da espécie. E delas nascem outras, de ar, água, fogo e até terra. Completando o ciclo da existência.