Uma chave especial

Não era uma chave comum. Seu formado era muito especial. Seu dono foi um brasileiro dos mais corajosos que essa pátria já viu.

Trazia na garganta um grito calado contra os que vinham de além -mar, tirar desta terra-mãe o que só a seus filhos poderia pertencer:o ouro.

Juntamente com um grupo de amigos que congregavam a mesma idéia, reuniam-se no inicio mensalmente e por fim quase que diariamente para decidirem qual a maneira mais honrosa de impedirem este saque a campo aberto a que eram obrigados a conviver. Sabemos que quando os governantes se afastam da justiça os governados se afastam da obediência e foi esta semente que germinou nos corações dos filhos da injustiça e da opressão.

O grupo era formado por intelectuais, poetas, gentes ligadas ao governo mas também descontentes com a situação e como representante do povo...o dono da chave.Era um prático ,cuja habilidade maior era extrair dentes do seu povo.

O dinheiro foi a causa e a conseqüência do que estava por vir.

Um dos componentes do grupo estava endividado com os impostos atrasados e não titubeou muito ante a proposta de perdão da dívida feita por um capitão, desconfiado dos encontros daquele grupo.

Dias depois o dono da chave foi preso na cidade do Rio de Janeiro onde tinha ido fazer uma reunião e levado a Ouro preto.

Ali foi mantido encarcerado por dois anos e viu vários amigos morrerem,entre os quais, o poeta,frágil criatura que só queria o bem do povo deste pais e graças à sua fragilidade não suportou os pingos d água que caiam em sua cabeça quando acorrentado e mantido imóvel graças as correntes que mantinham seus membros e cabeça esticados.

Outros tiveram suas penas perdoadas graças a bondade de uma rainha, cujo apelido era: a louca.

O dono da chave não teve a mesma sorte pois em presença de tão requintada dama teve a coragem de reafirmar sua posição e em momento algum delatou seus colegas.Levou a culpa sozinho.

Praça da Lampadosa. Rio de Janeiro-21 de abril de 1792.

Depois dessa data nunca mais houve a Derrama.

O sacrifício valeu.

Devemos agradecer eternamente nosso esquecido herói, que usou como chave sua própria cabeça,abrindo assim para nosso povo,as portas da liberdade.....