Lula, Kotscho e o Pandoro
Num destes finais de tarde que a gente acaba passando pelo Pandoro no caminho para casa, o garçom sorridente se aproximou e puxou o papo corriqueiro. Daquela vez não foi o futebol. Em quem o senhor vai votar? Pra presidente, não sei. Tem uma vereadora aqui que vai muito bem e vai ser candidata a deputada federal, vou votar nela. E você? Na Dilma, ele disse.E por que? Sabe doutor, eu sou de Pernambuco, e o Lula lá ajudou muito. Tem meus parentes, todo mundo satisfeito. Voto de conterrâneo, né?, eu disse, mas o Lula não é a Dilma. Ah, doutor, mas é tudo a mesma coisa. O que o senhor acha do Lula? Bom, pra chegar onde chegou, bobo ele não é. Eu vejo um mérito nele: não mexeu nas coisas que vinham certas no governo do FHC, na economia. Todo mundo tinha medo que ele fizesse besteira grande, mas não fez, só isso. Deixou de fazer muita coisa pra educação, saúde, portos, aeroportos, estradas.
Eu admiro o Lula doutor, ele é um cara comum como eu, veio de onde eu vim e chegou lá, ajudou os pobres, né? Só tem uma coisa que eu não gostei, aquelas bolsas-família -não -sei -o-quê, acho isto errado porque ajuda muito vagabundo. Precisa dar emprego e não esmola.
Você trabalha na Pandoro há quanto tempo?
Dois anos doutor.
Pois é, há oito anos, lá pra Maio de 2002, encontrei aqui com um velho amigo do ginásio, o jornalista Ricardo Kotscho que estava com a filha e muito alegre; me disse que a eleição estava ganha, que tinha vindo de um marqueteiro e que estava tudo certo; acho que ele era assessor de imprensa do candidato que ainda não estava bem nas pesquisas oficiais. Mas não é perigoso pro Brasil este homem presidente?, perguntei. Será que ele não vai fazer besteira? Vai não, besteira fez quem quebrou o país, está tudo certo, estou feliz, vou para Paris comemorar aniversário de casamento.
Ele estava certo mesmo. O Lula ganhou aquela e ganhou de novo, e a besteira grande não aconteceu.
E por que o doutor não vota na Dilma?
Ah, eu não sei em quem votar, é difícil, e depois, a Dilma não é o Lula.Disseram-me noutro dia para tomar cuidado com as viúvas raivosas do comunismo, uns radicais, e que o petismo era light, sei lá. Esse negócio de política é que nem futebol e religião, só confusão.
Nagib Anderáos Neto
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