PORQUE A PROPAGANDA INDUZ AO CRIME?

Quando no Jornal Nacional a apresentadora citou o Marcola como referência (um bandido rico), além de alguns jovens igualmente bem nascidos que cometem crimes, como o a atrocidade cometida contra o índio Gaudino, por exemplo, como argumento para provar que a miséria e a pobreza não são a causa da criminalidade, se utilizou do golpe mais antigo que os ricos comumente usam para esconder que a ganância dos endinheirados, dos poderosos, donos do poder e dos meios de produção, é o verdadeiro motor da miséria, das doenças, das epidemias e das convulsões sociais, especialmente a criminalidade enquadrada pela lei, digo, a criminalidade comum. Sim, porque a Constituição de 1988 determina que todo cidadão tem direito a um salário capaz de proporcionar a ele e sua família moradia digna, alimentação adequada, educação compatível com as exigência do mercado, saúde e lazer, entretanto, jamais se viu algum Ministério Público encabeçando ação contra qualquer empresa ou contra o Estado por ser flagrante o descumprimento dessa determinação.

Naturalmente que jamais se verá, pois o Estado é que paga os salários dos doutores modernos da lei e esses salários (profanos, diante da renda vergonhosa do trabalhador) cumprem de sobejo o requisito citado da Constituição e nenhum desses se vê necessitado de fazer valer esse requisito em seu favor. Sendo assim, podem julgar os inferiores com aparente imparcialidade, pois eles não têm falta de nada e dificilmente desejarão o que não podem adquirir.

Digo crimes enquadrados pela lei, porque a maioria dos poderosos, incluindo as forças executiva, legislativa, repressiva, e judiciária, cometem crimes que não podem ser enquadrados e muitos que podem eles escondem e mascaram. Um dos grandes crimes, por exemplo, é nenhum deles utilizar-se de suas atribuições para reduzir a criminalidade efetivamente, aplicando ação em sua verdadeira origem, na força que torna o crime uma opção, uma necessidade ou última alternativa na ótica daquele que se tornará seu agente. Em outras palavras, nenhum deles jamais usou a mão pesada da lei e da Justiça, que eles têm usado alegremente contra os pobres, para enquadrar os que roubam no salário do trabalhador e dessa forma não distribuem a renda de forma justa, para que esse ladrões sejam também presos, seus bens sejam confiscados e suas empresas sejam distribuídas aos que os tornam milionários se eles não obedecerem a um sistema de distribuição em acordo com o que determina a Constituição.

Todavia, é mais fácil mostrar o deliquente na televisão como se aquele único elemento fosse a origem de todo o mal, fosse a causa de as pessoas andarem na rua desconfiadas umas das outras, se espiando olhando para todo lado. Voltam assim o ódio da sociedade melindrada contra aquele delinqüente da vez e atraem a simpatia, a credibilidade e a esperança da população amedrontada para os programas jornalísticos com cara de justiceiros, os quais cobram ação da polícia, da Justiça e dos legisladores e, todos, preocupados com seus empregos, ganhos e carreiras, encenam nesse circo televisivo enquanto os meios de comunicação faturam milhões em comerciais caríssimos que pagarão altos salários a jornalistas e artistas para que bem atuem na função de atrair sempre mais e cegamente a atenção do grande público para os produtos que eles induzem as pessoas a consumir, pois são sempre divulgados em associação com a felicidade e a solução dos problemas existenciais dos indivíduos.

A propósito, uma das causas do aumento vertiginoso da criminalidade é a propaganda, o que falo como alguém com quase trinta anos de experiência. Quando trabalhei em agências, muito se discutiu em reuniões sobre o poder indutor da propaganda e muito se argumentou e comprovou isso para os clientes a fim de fechar negócios. Muitas vezes nos maravilhamos com experiências como mostrar o personagem do filme tomando uma Coca Cola, por exemplo, e depois verificar que a maiorias dos espectadores pediram aquele mesmo refrigerante ao saírem do cinema.

A verdade é que os apelos das propagandas são covardes, induzindo as pessoas a agirem automaticamente ou implantando-lhes no inconsciente a certeza de que alcançarão o que desejam se possuírem ou consumirem determinado produto.

É certo que muitos argumentam que há liberdade de escolha, mas experimente amarrar cachorro com lingüiça, pôr um pires com leite na frente do gato, mandar um miserável guardar dinheiro, enviar uma cesta de piquenique por um faminto, deixar uma mulher nua em uma cela prisional, mostrar um diamante para uma mulher.

Não quero dizer que, como os animais, nós temos que ceder aos nossos impulsos, embora que se estejam produzindo leis para permitir a indivíduos que gostam de pessoas do mesmo sexo cederem. Digo sim que é covardia expor as pessoas a falta do que precisam e depois aguçar-lhes com propaganda ainda mais a necessidade e o desejo de possuir o que não podem possuir.

É certo que não se precisa mais do que casa, cama, roupa e comida para se viver. Por outro lado, para ter-se isso se precisa também de trabalho e renda e para se fazer comida é preciso uma série de outras coisas. É verdade também que a propaganda produz consumo que produz postos de trabalho. Entretanto, a propagando indutivamente covarde, além de levar o pobre a desejar ainda mais o que precisa e não pode ter, aguça nele também a vontade de ter o que não precisa – cria em seu subconsciente a necessidade de possuir o que não precisa e igualmente não pode adquirir. E, como aquelas pessoas que compram por impulso o que não precisam, aquele que não têm como comparar se vê impulsionado a conseguir os meios para solucionar tal carência. E buscar soluções para suas carências é inerente ao ser humano, bem como aos outros animais. E, depois de muito depararem-se com a carência ou desejos insatisfeitos, em algumas pessoas a carência e o desejo passam a funcionar como a droga no viciado, pois na hora do desejo forte (a fissura) o raciocino é dificultado pela obsessão, comprometendo o funcionamento da mente que, diante da carência, começa a tirar do caminho tudo que impede a satisfação da presente necessidade, a saber os princípio que depois de consumada a ação voltarão a reprimi-los, mas serão suprimidos até serem completamente esquecidos nas próximas vezes.

Portanto, todo esse circo dos meios de comunicação é uma forma muito covarde de levar as pessoas a consumir em demasia coisas caras e da renda produzida por esse comércio a maior parte fica nas mãos de uns poucos, não indo para as mãos populares para ser utilizada na compra de produtos necessários e produzir mais empregos. É simplesmente como encurralar um gato e fustiga-lo até que se volte contra seu agressor, então este o mata com a desculpa de que ele o agrediu. É assim que a sociedade tem agido com os criminosos que ela mesma produz. Eles são apenas o meio como os poderosos mascaram a verdadeira causa da maior parte das desgraças sociais. É assim que eles mascaram sua culpa

A propaganda devia servir para informar as pessoas de que o comerciante tem o que elas precisam para as necessidades cotidianas, não induzi-las a pensar que o produto do anunciante é o único e infalível para as suas necessidades existenciais, como se fosse solucionar toda a sua vida. E as propagandas têm sido cada vez mais assim, indutivas.

É por tudo isso que a propaganda da forma indutiva como tem sido feita é uma das principais causas da criminalidade. Diga-se de passagem, ao lado da exploração salarial, é uma das mais poderosas e, como tal, devia ser enquadrada como ação criminosa.

Wilson do Amaral