Inquieto lugar de sossego

Estamos escondidos para que nenhuma bala perdida nos acerte. Ainda podendo ver, o nosso mundo sendo devastado, agredido pela intolerância dos próprios habitantes. Seres intratáveis, incontinentes, ávidos e furiosos, pelo desejo de matar e destruir. Tornaram-se anômalos, sem afeto. Pisam umas nas outras, sem distinção de raça, credo, cor ou mesmo parentesco.

Temos que encontrar um lugar mais seguro para ficarmos. A nossa gente perdeu o jeito de ser gente: o jeito sorri, de abraçar de dar a mão amiga, e de dizer, por favor... Ou até mesmo um obrigado. Perdeu-se a noção do bem. A maldade é sempre a ordem do dia deles.

Invadiram nossa privacidade, levaram à primeira flor do nosso lindo jardim, despedaçou pétalas por pétalas. O belo e encantado universo destruíram. Tentamos impedi-los, nos agrediram. Noutra noite, matou o nosso admirável pássaro e a linda cachorrinha. Remeteram-nos contra parede apontaram armas para nós.

Tentamos, mas, não conseguimos. Invadiram a casa, adentraram em nosso lar, massacraram nossas vidas. Fomos feito objeto da maldade incontida naqueles inumanos, e exposto ao escárnio da perversidade humana. Ateou fogo no nosso irmão, arrastaram nosso garoto pela rua e jogaram pela janela nosso bebê... Partiram nossos corações como quem parte a machadadas, lenha para fogo. Estigmatizaram nossa existência, fizeram-nos alvos de flechas. Tememos continuar sendo objeto de desamor e da crueldade. Assusta a sensação de que matem a alma sobrevivente. Desejamos encontrar um novo amanhã.

Estamos tentando por os pés no chão. Sentimos calafrios. Arriscamos, mas, nossos pés deslizam como se estivessem em um limo. Uma força centrípeta suga toda nossa existência.

Submergidos no fatídico silêncio, ouve-se o pulsar da terra. Sons de lamentos. Pedaços de nossa gente sendo removidos... Seres humanos são arrancados do seio familiar, e remetidos a existir como indigentes... e tirados para fora da terra, tornando-se apenas adubo do solo.

A terra está inquieta como se quisesse gritar por socorro. Neste instante silenciamos, não para pensar, mas, sentir a própria natureza que se rompe absorvendo nossas lagrimas que rega o chão desfigurado-o e ao mesmo tempo encharcado com sangue. A nossa terra foi transformada num lodaçal de sangue. O que nos resta?

Num expressivo olhar incomodo, fitamos os olhos para cima e não víamos o céu azul, as estrelas a noite... Infelizmente não notávamos o lindo céu por causa da poluição. Eles contaminaram todo nosso universo. A terra onde o sabiá cantava não se ouvia o seu canto, as plantas não podiam enfeitar a nossa terra, nem mesmo o nosso jardim. Como podemos viver nesta terra que estão devastando? O que será que, não vamos mais poder ouvir e ver...? A própria musica foi contaminada com letras espúrias, os estilos musicais foram pervertidos. É urgente levantar uma nova bandeira com lemas não políticos, mas com bastante política para termos ordem e progresso neste mundo.

Que neste longo e curto tempo que nos resta, possamos andar e correr pelas ruas, bosques e sentir o cheiro da natureza, vê as estrelas brilhando no céu, os pássaros gorjeando e que, cantemos canções que nos leve a pensar no que é amável e de boa fama. E não contermos a ouvir canções maldosas e imorais, tanto quanto sentir o cheiro frio e podre de sangue pelas praças e ruas, como resultado da lei do silencio.

Antes de matarem o corpo, molestam a alma. Tiram da criança e/ou do adulto o sorriso maroto de ser. A sensibilidade já se foi, pois, ao vermos corpos inertes na rua não podemos parar para reconhecer se é um parente, amigo, pois eles vêm e inevitavelmente tiram nossa vida.

O que valemos neste universo? Uma bala perdida e/ou uma encontrada cravejada no peito ou na cabeça de um jovem, adulto, criança, de um pai, uma mãe, uma professora...? Somos alvos de determinada brutalidade e ilegítimos desejos. Que serve pertencer a esta esfera tão irregular? Se não podemos sentir, pular correr, amar, ser justo. Apenas almas embrutecidas, sobrevivendo?

Por que este mundo existe? Pra que? Porque tantas montanhas, árvores, rios e praias tão maravilhosas, se não podemos usufruir? Tantas riquezas naturais para ser aproveitada: O vento batendo nosso rosto o cheiro do mar e as árvores com seus frutos e flores com beija-flores sugando a nécta... Queremos viver por tudo isto e percorrer as ruas e avenidas... O mundo! Mas, como...?

Eles estão em todos os lugares, livres pelas ruas e avenidas, derramando sangue pelas praças. Enfim correndo não atrás de uma bola, mas, de balas de destruição. Acharam pouco destruir nosso universo, agora também querem destruir a nossa beleza interior, fazendo-nos encher de ira e ódio...

O que significa viver se não podemos respirar um ar puro, abrir os olhos para vê o brilho das estrelas. Eles contaminaram nossa pátria. Amorteceram e mataram muitos sonhos... O que querem de nós? Sabe como estamos agora? Vivendo em uma redoma, sonhando que não venham nos destruir. Talvez nos encontre... Esperamos que não.

Se continuarmos vivos, temos um sonho é simples, sem ônus. Respeito à vida. Esta é a ultima esperança que não pode morrer.

jbez
Enviado por jbez em 23/07/2010
Código do texto: T2394473