Como é lindo o meu amor por você!
Sentei à mesa e diante de mim todos os meus medos e esconderijos olhavam-me com olhos esbugalhados, julgando e avaliando desde a minha aparência, meu tom de pele, os meus cabelos absurdamente escovados, as minhas roupas criteriosamente escolhidas para a ocasião (já prevista), o meu perfume, até a minha opinião sobre política e religião, meus vãos conhecimentos em línguas, literatura, artes e todas aquelas coisas que se espera de uma “moça de família”. Eu estava sendo trucidada e tinha de aparentar leveza e sorrir, não recordo-me de ter sorrido tão falso sorriso. Após o jantar, serviram-me (sem que eu solicitasse), as suas qualidades e seus gloriosos feitos, estes sem os mínimos sinais humanos de imperfeição. Como eu, mera e ignóbil jovem poderia ousar querer participar deste clã tão inalcançável? Passei a perguntar-me se eu mesma queria isto, minha razão afirmava certeiramente que não, mas meu coração permitia-se sujeitar. Com o passar dos anos adaptei-me, se pode-se por assim dizer, impus minha condição e até rio de certas situações. E assim, a vida continua, mantendo o bom humor, o sorriso, a classe e a hipocrisia. Não é o que se espera?