RELATO DE EXPERIÊNCIA: POESIA SONHADA
Hoje completo 400 textos publicados no Recanto. Para essa marca, um relato de experiência inusitado: uma poesia sonhada. Sonhada? Isso mesmo. Literalmente composta em sonho: uma cena lida me impressionou, construí sua imagem mental e ela ficou em minha memória. Isso acontece muito quando leio algo que gosto. E não raro, vira sonho. Sonho sonhado mesmo...
“Vidas Secas” é, sem dúvida, um dos meus livros preferidos. Tenho o meu, já velhinho, velhinho e não sei quantas vezes já o reli. É dele a cena que me impressiona tanto: os primeiros sinais da seca chegando ao sertão nordestino. E foi isso: depois de ler o trecho que gosto, fui dormir. E em sonho, compus a poesia “Cores da Campina”. Ela veio prontinha, prontinha. E digo, com certeza: veio de carona nesta maravilha de Graciliano, que ora transcrevo:
“O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio...” (...) Àquela hora o mulungu do bebedouro, sem folhas e sem flores, uma garrancharia pelada, enfeitava-se de penas...”
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 41ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 1978. p. 115-116)
Cores da campina
Pássaros dão cores à campina
E a campina
É negra.
Flores dão cores à campina
E a campina
É amarela.
Ramos dão cores à campina
E a campina
É verde
Raios dão cores à campina
E a campina
É vermelha.
Cores dão cores à campina
E a campina
É de todas as cores.