AMO SEU CORAÇÃO CIGANO

Sentado na varanda, onde morava, vi cavalos, carroças, um burro com chocalho pendurado ao pescoço.

Crianças, cestos de galinhas...

É o povo cigano que traz à cidade, seu trabalho em cobre, suas barganhas e suas danças.

Acamparam bem ao lado de onde moro, erguendo suas tendas.

Eu olhando o horizonte, pensativo; me assustei quando uma jovem me pergunta:

"Pode me arrumar um pouco d'água?"

Confesso que ao olhar aqueles olhos, senti um fervilhar dentro de mim e tomei a vasilha de sua mão, e a trouxe cheia d'água.

Aquela jovem voltou ao grupo, mas eu não consegui tira-La da mente desde então.

Era uma paixão que me fez ir ao centro

da tenda e falar a todos que ali estavam...

EU QUERO ME CASAR COM ESTA JOVEM!...

Um silêncio se fez, até que a matriarca

se levantou e disse:

Você não pode casar com uma cigana!

Pelo que respondi:... Posso sim!

Eu também tenho um espírito cigano.

Para que eu mesmo desistisse desta idéia,

após breve intervalo, onde um acordo entre os maiorais da tribo se fez, e disseram-me:

"Para você se casar com a jovem cigana, precisa vencer todos os testes, e provar que tens um "espírito cigano"".

Não liguei se tudo aquilo era apenas (esperteza dos ciganos), mas eu aceitei fazer o teste, embora soubesse que a jovem já estava prometida a um rapaz de sangue cigano.

Acreditem!... eu enfrentei todos os obstáculos.

Ciúmes do rival a quem a jovem havia sido prometida....que aos poucos ia perdendo o prestígio, pois viam que eu me firmava como merecedor de ser realmente chamado de cigano.

Em todo esse tempo, eu mal podia cumprimentar a jovem por quem me apaixonei.

Ao ler a minha sorte, a matriarca viu que era meu destino, casar-me com uma jovem cigana e a tribo seria abençoada

com ouro dos deuses.

Trabalhei duro, sem ganhar nada mais que meu pão.

Aprendi a língua cigana, domei todos os cavalos bravos...

Todos estavam impressionados, pois perceberam que não desisti da minha amada.

Foram 7 anos de provas, e não puderam

negar que eu também me tornasse cigano, mesmo tendo que revogar a promessa anterior, por eu ter provado ser mais cigano que o "noivo" derrotado, em todas as fases do "teste", pois a palavra dada, havia de ser cumprida.

Foi então que consentiram que eu fizesse o juramento cigano e recebesse as bênçãos

para que desposasse minha amada.

Um dia de festa e alegria, quando

ao final, foi me dada a palavra para dizer

o que havia no meu coração.

Silenciaram os instrumentos e as cantigas...

Levantei minha voz e declamei meu

poema de amor, assim....

EU AMO SEU CORAÇÃO CIGANO

O meu destino trouxe ao meu coração

a alegria e a "kambalim" — (paixão amorosa).

Me sinto honrado pela permissão

desse amor, dada pelo "krali" — (chefe maioral dos ciganos).

De agora em diante cultuarei o mesmo

"BARO CUMO" (Deus).

Sou feliz por este "CÂMEPE" (Amor).

Declamo meu poema na "ROMANÊ CHAVÊ" (Língua cigana).

Porque tenho "ILÔ ROMANÔ" (Coração cigano).

Agirei como um "CAUTANA" (Soldado).

Me revestirei de "JELI" (Amor).

Eu posso dizer que sou um homem "Patusco" = (gosta de brincar).

Encontrei uma "CHIVANI" (Mulher sábia).

Uma deusa pra "REMENDIÑAR" (Casar).

Prometo que ela será sempre a minha

"GAMADI" (Namorada).

E depois desse "ABIAL ROMANÔ" (Casamento cigano).

Posso entregar à tribo o meu "GARLOCHÍN" (Coração).

Cobrirei minha amada de "CHUMIDIMATA" — (Beijos).

Vou leva-La pra minha "CHARIBENE" (Cama).

E com toda a minha "KELIMASKI ROMAÍ" (Alegria cigana).

Direi a ela perante todos...

"Me volilto" = (Eu te amo).

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em/RJ - 01/2008

Escola do poeta/RJ

Lewilson
Enviado por Lewilson em 21/07/2010
Código do texto: T2392037
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