Atendendo ao pedido do Abud
ATENDENDO AO PEDIDO DO ABUD
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 21.07.2010)
O Abud mora nos Estados Unidos. Chegou lá quase quando o Cabral abordava as costas da Bahia. Ou seja: faz muito tempo que o Abud está lá. Ele trabalha nos "States", tem empresa por lá. O nome dele é Abud mas ele é brasileiro. Na verdade, ele nem se chama Abud, Abud é apelido. O nome acho que nem lembro qual é. Virou Abud desde cedo, para o resto da vida.
Sabe-se que, nos tempos de faculdade, o Abud vendeu um toca-discos portátil para o Manoel Osório. Eles se conhecem desde a Primeira Missa. Dito assim, vendeu um toca-discos portátil, parece uma coisa banal, sem importância. Vivemos hoje vendendo e comprando não só coisas portáteis pequeníssimas como coisas virtuais. Arquivos eletrônicos com programas, textos, fotos e filmes, por exemplo. Créditos para celular, outro caso muito comum.
Mas naquele tempo, disse Jesus, ou uns dez anos antes, toca-discos vinha num móvel enorme e pesado de madeira maciça. Mandava-se buscar longe, um caminhão entregava em casa poucas semanas depois numa caixa de madeira. Servia para tocar discos de vinil, os vistosos "long-playings" (LPs) pretos de 12 polegadas de diâmetro. Eles giravam a 33,3 RPM (rotações por minuto) enquanto a agulha de diamante na extremidade do braço percorria os sulcos do vinil. Assim se fazia a música. Ou melhor: assim se reproduzia a música.
Destarte, um toca-discos japonês portátil (o Japão na época era a China de hoje) era algo deslumbrante, revolucionário e moderno. E o Abud vendeu uma dessas maravilhas para o Manoel Osório. Provavelmente pelo fato de o Abud viver vendendo bagulhos para colegas e não colegas é que ele passou a ser chamado de Abud. O turco, o libanês, algo assim.
Pois o Abud reclama dos "e-mails" que vem recebendo há uns tempos: são "transcrições de médicos, padeiros, professores, etc, mormente falando mal de nosso Presidente". Ele sabe que a maioria deles tem falsa autoria. E observa: "É interessante notar que não tenho visto nenhuma crônica ou ensaio expressando algum apoio a quem tem divulgado tão bem nosso país em outros continentes." O Abud completa: "Seria salutar ver, de tempos em tempos, algumas referências a favor do Presidente, pois creio que com uma aprovação (recente) superior a 70% ele deve ter escribas favoráveis à sua pessoa, mesmo com falsos perfis."
Fica aqui o apelo: vamos atender ao pedido que vem lá de longe do amigo Abud?
(Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior)