AMIGOS-PRESENTES

Sofre. E não sebe por que sofre. Quer ter amigos, luta por isso? Ou sua luta é que é vã. São em momentos como o Natal e o Ano Novo, os aniversários, sábados à tarde ou feriados, em que se dava conta de quanto fazia falta os amigos. Amigos, quem são? Não sei. Tu deves estar a pensar. Que pessimismo! Há momentos em que era tão exigente, que amigos quase não encontrava. Amado sabia que era, pois tinha muitas pessoas, Deus, a família e outros que bem o fazem, seja pela ligação ou pelo abraço. Mas, em se tratando de amizade... “Aí o bicho pega!” Via colegas cercados de pessoas. Espantado e consternado gritava no silêncio do seu íntimo. Eles têm tantos! Cara, quem são teus amigos, ou melhor, o que é para ti ser amigo? Amigo para ele era não ser nada e ser tudo. Estar disposto a escutar e ser escutado. Ser termômetro, bálsamo e se preciso mertiolato. Ser abraço e dar braço na hora em que se precisa (não no pranto, pois já haverá uns tantos), no desencanto. Os amigos estão em extinção. O motivo mais plausível aponta para a sociedade de consumo. Não só pela ideia da descartabilidade, e sim pela mentalidade presenteadora que diz “nunca chegue de mãos vazias”. Conseqüências disso, as mãos chegam tão ocupadas, ao ponto de não poderem abraçar. Não queria dizer com isso que estes objetos não fossem importantes. e, particularmente, quando os recebia, sempre fica muito contente, pois sabia que eles eram sinais de suor e muita doação. Mas insistia, em não querer os presentes, já que eles eram tão ausentes. Os queria presentes, como gente que canta-ri-chora, e, não esquece, que é gente da gente.