Crise de identidade
Há pouco tempo, fui resolver um assunto burocrático de menor importância e, para minha surpresa, o que era algo simples quase tornou-se um problema sério. Tudo quase se frustrou porque minha carteira de identidade foi recusada. A justificativa foi de que estava plastificada e, então, não poderia mais servir como documento.
Saí de lá meio indignado porque, afinal, há décadas que eu, para provar que sou eu, sempre usei o mesmo documento e, na época em que eu o obtive, a orientação era justamente que o cujo dito fosse plastificado para melhor conservação. De repente, minha mera presença não era mais suficiente para comprovar que eu existia.
De qualquer forma, considerando que meu “erregê” padeceu de aposentadoria compulsória, passados alguns dias, lá fui eu pedir uma segunda via do documento. E toca tirar foto e encontrar comprovante de residência e, de tudo isso fui munido para obter o que precisava.
Para minha surpresa, nem nessa circunstância a carteira antiga foi suficiente para obter outra nova em seu lugar. Exigiram-me certidão de casamento, também! Tudo bem que de comprovante de casório tenho dois. Todavia, o mais antigo já não tem valor, e o mais recente – nem tão recente assim – tem tantas averbações, emendas, observações e outros que tais, que mais parece certidão vintenária de registro de imóvel. E, no caso, trata-se de uma “certidão negativa”, já que só serve para provar que não estou casado! Deveria chamar-se, então, certidão de “descasamento”.
Mais uma vez senti-me acabrunhado. Tudo bem que atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher e coisa tal, porém no meu caso, nem eu sou tão grande quanto gostaria e nenhuma delas sustentou a sina o quanto eu precisaria. E mesmo que nunca tivesse contraído matrimônio (nossa! até parece doença!), deveria apresentar a certidão de nascimento, que é um papel que jura que minha mãe – e não outra pessoa – me pôs no mundo.
Seja como for, para provar que eu sou eu, eu mesmo não basto! Posso dar minha palavra de homem ou tantos fios de bigode quanto os tenha e nada disso resolverá. É preciso um papel que diga se e quando uma mulher fez o favor de dar algum sentido à minha existência.
Depois de algumas filas, algumas taxas e algumas impressões digitais, enfim, consegui um “erregê” novinho, novinho! Pena que o ser capturado na foto 3 x 4 não possa ser substituído por uma segunda via tão nova quanto.
Fiquei por um tempo analisando aquela feição em franca decomposição e, então, notei que não me conformo que aquele ali sou eu. Pois é! Não adiantou plastificar a juventude, porque ela se deteriorou assim mesmo.
.oOo.
Há pouco tempo, fui resolver um assunto burocrático de menor importância e, para minha surpresa, o que era algo simples quase tornou-se um problema sério. Tudo quase se frustrou porque minha carteira de identidade foi recusada. A justificativa foi de que estava plastificada e, então, não poderia mais servir como documento.
Saí de lá meio indignado porque, afinal, há décadas que eu, para provar que sou eu, sempre usei o mesmo documento e, na época em que eu o obtive, a orientação era justamente que o cujo dito fosse plastificado para melhor conservação. De repente, minha mera presença não era mais suficiente para comprovar que eu existia.
De qualquer forma, considerando que meu “erregê” padeceu de aposentadoria compulsória, passados alguns dias, lá fui eu pedir uma segunda via do documento. E toca tirar foto e encontrar comprovante de residência e, de tudo isso fui munido para obter o que precisava.
Para minha surpresa, nem nessa circunstância a carteira antiga foi suficiente para obter outra nova em seu lugar. Exigiram-me certidão de casamento, também! Tudo bem que de comprovante de casório tenho dois. Todavia, o mais antigo já não tem valor, e o mais recente – nem tão recente assim – tem tantas averbações, emendas, observações e outros que tais, que mais parece certidão vintenária de registro de imóvel. E, no caso, trata-se de uma “certidão negativa”, já que só serve para provar que não estou casado! Deveria chamar-se, então, certidão de “descasamento”.
Mais uma vez senti-me acabrunhado. Tudo bem que atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher e coisa tal, porém no meu caso, nem eu sou tão grande quanto gostaria e nenhuma delas sustentou a sina o quanto eu precisaria. E mesmo que nunca tivesse contraído matrimônio (nossa! até parece doença!), deveria apresentar a certidão de nascimento, que é um papel que jura que minha mãe – e não outra pessoa – me pôs no mundo.
Seja como for, para provar que eu sou eu, eu mesmo não basto! Posso dar minha palavra de homem ou tantos fios de bigode quanto os tenha e nada disso resolverá. É preciso um papel que diga se e quando uma mulher fez o favor de dar algum sentido à minha existência.
Depois de algumas filas, algumas taxas e algumas impressões digitais, enfim, consegui um “erregê” novinho, novinho! Pena que o ser capturado na foto 3 x 4 não possa ser substituído por uma segunda via tão nova quanto.
Fiquei por um tempo analisando aquela feição em franca decomposição e, então, notei que não me conformo que aquele ali sou eu. Pois é! Não adiantou plastificar a juventude, porque ela se deteriorou assim mesmo.
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