V I Z I N H O

Os vizinhos são aquelas pessoas que convivemos diariamente porque moram próximos a casa que moramos. Antigamente quando as pessoas tinham mais tempo de se visitarem os vizinhos se somavam as nossas famílias e compartilhavam das nossas alegrias e tristezas.

Hoje os contatos cotidianos que temos com os vizinhos nem sempre são presenciais. Mas, a gente sente a presença dele por causa da música alta. Por mais que a gente gosta de música escutar todo dia em alto volume “Charlie Brown”, não dá. Benito di Paula que nos desculpe. Enquanto isso o vizinho da direita reclama pelo celular do galho da mangueira que está passando para o quintal dele. E se a gente corta o galho ele reclama das folhas que estão caindo para sua casa. Vá entender vizinho.

Tem aquele vizinho que vigia a gente. Sabe a hora que chegamos e saímos. Sabe quem nos visitou e até pergunta o que o encanador foi consertar na nossa casa. Hoje, contrariamente das antigas vizinhanças ninguém vibra mais com o sucesso e crescimento que alcançamos. Eles ficam de olho na televisão plasma e no carro novo que adquirimos com o suor de nosso rosto. Às vezes é até melhor dizer que o carro é emprestado de um amigo, vai que o olho goro roga praga e a gente bate logo ali na esquina.

Tem também aquele vizinho misterioso. Calado até por demais. A gente não escuta um barulhinho sequer da casa dele, embora a gente arregale os ouvidos. E aí a gente começa a desconfiar. Acha que o andar dele é de bandido, que o olhar dele é de marginal, até quando a gente depara com a reportagem do jornal com seu rosto estampado dizendo que se trata de um grande pesquisador da universidade. Ai a gente passa a compreender o silencio do homem inteligente, homem sábio de poucas palavras. Dá-lhe! Que coisa feia essa de julgar previamente os outros.

Bom, mas a idéia de fazer todo esse relato sobre vizinhança é porque eu quero homenagear um vizinho músico. Todo final de tarde ele nos presenteia tocando em sua flauta lindas melodias. Olhando para ele a gente não imagina o artista que é, apesar dos seus longos cabelos cacheados aos ombros, que demonstram ser uma pessoa diferente. As pessoas que têm dom especial geralmente são excêntricas.

Este vizinho sim, não incomoda, brinda nossos ouvidos com as notas que harmoniosamente fluem de seu instrumento musical. Ele ministra voluntariamente aulas de flautas para um grupo de crianças carentes da nossa cidade. É lindo ver as criançinhas aprendizes indo ou voltando da escola tocando suas flautas, rua abaixo rua acima.

Taí, eu nunca pensei em ganhar na loteria, nem jogar eu jogo, mas até que agora estou interessada numa mufunfa. Se eu fosse premiada juro que investiria integralmente na escola de música do artista cabeludo.

Como eu gostaria de ter outros vizinhos como ele. Pessoa simples, desprovida de vaidade, amante da música, solidário. Não reclama de nada, não mexe com ninguém e faz das nossas tardes uma festa, ao tocar seu instrumento de sopro de som suave e melodioso.

Você sabia que 23 de dezembro é o dia do vizinho? Mas, em Goiás, Distrito Federal e São Paulo, se comemora o "Dia do Vizinho" em outra data, dia do nascimento da poetisa Cora Carolina ,20 de agosto. É ela autora da seguinte frase: " Amigo é mais que parente, pois é o primeiro a saber das coisas que acontecem na vida da gente".

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 20/07/2010
Reeditado em 26/04/2020
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