A EDUCAÇÃO DA ALMA

A propósito do modo como as crianças são educadas pelos progenitores reflecte François Mouriac ( galardoado com o prémio Nobel de Literatura de 1952,) no livro “L’Education des Filles”.Paris,Corrêa, pag.61, e segts:

"Para muitos pais, o essencial é, antes de tudo o mais, que os filhos estejam de saúde: é esse o seu primeiro cuidado:”Estás a transpirar, não bebas ainda…”

“Parece-me que estás quente: vou ver se tens febre”(…) primeiro cuidar da saúde da criança; depois, da educação:”Põe-te direito: estás a fazer corcunda…Não limpes o prato…Não te sabes servir da faca...Não te espojes no chão dessa maneira…Põe as mãos em cima da mesa! As mãos, não os cotovelos…Com a idade que tens, ainda não sabes descascar um fruto?…” Sim, é preciso que sejam bem educados! E o sentido que todos nós damos a esta expressão “bem educados” mostra até que ponto nós a rebaixamos. O que conta é a impressão que possam causar aos outros, ou seja, a fachada. Desde que, exteriormente, não traiam nada que o mundo não aceita, achamos que tudo esta a correr bem.”

Os únicos educadores dignos desse nome - mas quantos há que o sejam ? São aqueles para quem conta aquilo a que Barrés chamava a educação da alma. Para esses ,o que importa naquela jovem vida, que lhes é confiada, não é só a fachada que dá para o mundo, mas as disposições interiores, aquilo que, num destino, só Deus e a consciência conhecem.”

Quantos, mesmo entre os crentes mais inflamados, preocupam-se a educar a alma? Tão poucos que a sociedade nem sente o fruto dessa educação.

Todos cuidam da “fachada”, das aparências: embelezam-na para que seja agradável à vista; incutem elementares regras de etiqueta, para que frequentem os salões sem desdouro; ensinam-no a vencer; a ganhar dinheiro, olvidando que a verdadeira educação é a da alma: a que plasma a índole, tornando-a virtuosa, nobre de sentimento, briosa na honra, digna e prestável.

E como assim não se faz, topa-se, nas encruzilhadas da vida, alçados a elevados cargos, figuras públicas, que não passam de asquerosos “sepulcros caiados”.

São, como bem disse a raposa de Esopo ao presenciar máscaras de teatro:”Bonitas cabeças…mas nada têm dentro”.

Humberto Pinho da Silva
Enviado por Humberto Pinho da Silva em 19/07/2010
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