DEUS SOL
Não é difícil fazer do Sol um deus. Entendo os povos que fizeram ou fazem isso ainda.
Do quintal da minha casa, que é tipo sobrado, tenho o mesmo privilégio de um vigia sobre um muro. Posso ver os 360 graus de horizonte. Em cada ponto desta circunferência tem algo para admirar e ser contado. Mas dois pontos nela são marcantes: onde o Sol aparece e onde se esconde. Eles se transformam em palcos que apresentam um espetáculo gratuito e diferente diariamente.
Sempre que posso, procuro testemunhar estes dois momentos. Esforço-me para ser discreto e sensível o suficiente para que nada se perca ou interfira nestes minutos quase sagrados. São momentos com roupas de um ritual. Respiro lentamente, com os pés querendo se soltar do chão. Sinto-me quase suspenso no ar.
As primeiras luzes esparramam-se por sobre os ombros do horizonte como um manto real. Anunciam o caminho daquele que reinará no céu no dia que inicia, e delicadamente proclamam às estrelas que serão empalidecidas. Em poucos minutos seu arco surge. Assim que os olhos, como janelas, deixam entrar pela alma a imagem do astro em sua primeira saudação, no meu peito o coração acelera sua marcha.
Depois de banhar a terra como o mar banha a praia, dando-nos o dia, o astro segue em direção ao poente que se tinge com cores e tons ardentes, transformando o horizonte num bordado com véus de cera em fogo. Assim ele se vai, como valente para sua tenda após a batalha, deixando-me com a mão acenando, quase cultuando-o. Solto o ar do peito, olho pra cima e penso: Como é grande a glória e o poder de quem o fez.