O meu irmão excepcional.
Fui vê-lo às 16 horas, como de costume.
Estranhei a porta aberta e ele sentado com a televisão desligada. Parecia pouco animado. Achei que fosse por causa da sequência de dias chuvosos: ele se aborrece quando o sol some. Sabendo disso apareci pra lhe fazer companhia e levar algo diferente para animar a nossa prosa: pipoca pra tomar com café fresco e sopa pra ele tomar antes de deitar-se.
Mas, nada parecia lhe animar.
Me pediu para regular a imagem da televisão. Liguei e ajustei o melhor que pude. Não estava interessado no filme. Perguntei se já havia visto, ele respondeu que sim e desviou o assunto.
– Eu sou o segundo filha da mãe, não é? Primeiro nasceu o Jacó, depois a Rosa.
– Veja, mostrei-lhe três dedos e fui separando: primeiro, segundo... você é o terceiro. Certo? – Ele anuiu com um movimento de cabeça. E emendou:
– Gente que nasce com problema de cabeça não fica boa nunca?
Engoli em seco - Santo Deus, e agora? Aos 74 anos tomar consciência de certas coisas é doído...
“Bem, tem gente que melhora muito. Você sabe, trabalham, moram sozinhos, namoram e até conhecem Viagra”! Dei-lhe uma piscadinha. Sorrimos. (ele faz tudo isso)
Ele tornou a me falar do sonho que teve que tivera:
– Eu sonhei que um médico novo me deu um comprimido vermelho e eu fiquei bonzinho, sabe? Normal.
– “Eu acho você muito melhor”!
– É? – Ele sorriu de mansinho, disfarçando a tristeza e mais uma vez mudou de assunto: O meu primo, que é artista de televisão, é parecido comigo?
“–” Caramba! Vocês são muito parecidos! Principalmente quando você corta os cabelos e faz a barba.”
Agora, sim – seus olhos miúdos se iluminaram!
Preparei a pipoca e ficamos conversando.
Ele me falou do passado, de quando ele era menino...
_”Zé, ainda bem que eu tenho você pra me falar de coisas que aconteceram antes de eu nascer. Não sei como você pode guardar tudinho na sua cabeça, cara!