E você? Acredita em amores para sempre?
Dia desses me perguntaram se eu acreditava em amores para sempre. Eu juro que parei uns minutinhos pensando se respondia ou não.
É que já cheguei à conclusão que esse tipo de assunto é quase como falar de política ou religião. Ninguém consegue chegar a um consenso e ninguém convence ninguém. E, invariavelmente, as pessoas se estressam tentando mudar a opinião do outro.
Mas, enfim, como gosto de conversar, lá fui eu mais uma vez, discutir se o mar é azul-esverdeado ou verde-azulado.
Se for só conceito, pode anotar aí que acredito, sim, em amores para sempre.
Não. Não é impressão sua. Você viu um “mas” impregnando a frase.
O fato é que tenho a convicção de que tudo na vida acaba um dia – inclusive o amor. Mas também acho que algumas pessoas podem conseguir fazer acontecer de durar tanto tempo que elas próprias acabam antes do sentimento acabar.
Sim, o termo é esse mesmo. Fazer acontecer.
Como assim?
Tudo bem, ninguém apaixona porque quer ou por quem quer. Apaixona ou não. E pronto. Nisso concordamos.
Mas estou completamente convencida que, para fazer um amor durar mais do que a vida da gente, não adianta ir vivendo. Os dois precisam fazer com que isso aconteça. E fazer desde o princípio... desde o primeiro dia. Porque pode anotar aí: o que você acha fofo na primeira semana vai te irritar profundamente ao término do primeiro ano.
Você conhece a pessoa. E, incrivelmente, inexplicavelmente, o tempo para. E isso é raro, mas muito raro mesmo. Aí, vocês saem juntos duas ou três vezes. E, surpreendentemente, o encanto permanece.
Só que na terceira ou quarta vez que vocês saem... pode anotar aí, raramente passa da quarta vez, a pessoa:
1. resolve implicar com os seus amigos
2. reclama do horário que você trabalha
3. se ressente da atenção que você dá a sua família
4. quer se mudar para a sua casa
5. todas as alternativas anteriores
No início, acontece de forma muito sutil. E, sem perceber, você vai deixando. Aí, quando vê, o que era uma insinuação vira exigência. Pronto! Não há paixão que sobreviva ou amor que resista. Mas, só para lembrar, foi você que deixou, está bem?
A coisa toda começa das formas mais variadas.
Por exemplo, você entra no MSN à meia noite e, ao invés de um “boa noite”, a janelinha traz um "onde você estava até essa hora, amor?". A paixão te faz pensar: “Que fofo isso... se preocupa comigo”. Acredite, se isso seguir desta forma, daqui a um ano esse ser humano vai querer controlar o que você come.
E qual a solução?
Correr? Tá, isso também resolve.
Mas se o tempo parou para vocês, pode valer a pena colocar o seu limite, não acha?
Como fazer isso sem magoar?
Eu não faço a menor idéia. Não tem receita. Só sugiro que jamais conversem sobre essas coisas quando um dos dois estiver irritado. Tirando isso, entre falar e não falar, a primeira opção é sempre a melhor. Até porque vai acontecer de novo. E aí vai incomodar em dobro. Melhor resolver agora, pode acreditar.
Ah, e “falar” quer dizer pessoalmente. Ou, pelo menos, por telefone. Conversar essas coisas por e-mail ou MSN é calamitoso. Palavra escrita não tem tom de voz.
Eu não vou cansar vocês com outros relatos das situações cotidianas que fazem com que eu ache tão improvável o “para sempre” no amor.
Todo mundo quer apaixonar. E até se apaixona. Mas para virar amor... bem, tem que conseguir passar por todas essas pequenas provas cotidianas sem perder o encanto. E isso é tão difícil. Porque não tem receita. O que funciona para um não funciona necessariamente para o outro. E o que funcionava naquele outro amor, não vai necessariamente funcionar com este amor que a vida te presenteou hoje.
Como assim aquele outro amor?
Sim, eu acredito que podemos amar mais de uma vez na vida. E com a mesma intensidade e verdade. E não me olhe assim... eu disse que o assunto era polêmico.
Ah, e, por favor, não me peça para classificar amores em ordem de importância. Cada um é único. As chuvas de julho, que polvilham o ar por dias seguidos com uma cortina em movimento, não são menos bonitas que as torrenciais águas que nos surpreendem no meio das tardes de março. Nem são menos chuva.
Enfim, voltando ao nosso assunto... “amores para sempre”... você acha mesmo que esse verbo tem som de horizonte à toa?
Amar é onda. Inclui o de novo. O novamente. Amar é aberto. Inclui o profundo. O que não se entende. Inclui saber que por mais fundo que você vá, vai ter sempre uma parte do outro que não vai conhecer. E inclui entender que parte do encanto é justamente este.
Só para constar. Eu não sei nadar. Mas nunca deixei de ir até depois das ondas por conta disso. E, em passeios de barco, acho simplesmente irresistível saltar da proa em mar aberto.
Então é isso. Acredito, sim.
(Julho de 2010)