AONDE É QUE NÓS VAMOS PARAR?

Tenho andado muito pensativo ultimamente. O que tenho lido, as coisas que tenho visto e ouvido, as coisas que vêm acontecendo, principalmente, dentro da estrutura familiar - muitas relacionadas com a barbárie -, têm me deixado um pouco desanimado com o futuro próximo da nossa sociedade.

Tenho observado que essa valorização do “ter” acima do “ser” tem provocado um desequilibro emocional muito grande nas camadas da pirâmide social e tem, paralelamente, me mostrado um desmedido descontrole entre limites e possibilidades.

Caminhamos, a passos largos, para um confronto entre as forças do bem contra as forças do mal, pois a cada dia que passa, os absurdos se sucedem e são, todas às vezes, uns mais hediondos que os outros.

Tenho visto, no noticiário recente, o caso do jogador de futebol Bruno. Depois da exposição, na mídia, do que aconteceu com a moça, envolvida no caso, é que ficamos sabendo como era a vida particular do profissional do Flamengo. Antes, porém, já tínhamos os casos de Suzane Richthofen, dos Nardoni, de Gil Rugai...

É claro que não podemos dizer que tais fatos ocorreram devido a isso ou aquilo, mas podemos fazer uma reflexão, amadorística, acerca do comportamento impróprio do (agora suspeito de ser o mandante do crime) goleiro Bruno.

Os meios de comunicação, através de matérias investigativas, trouxeram à tona o que se passava na vida particular dele e na dos seus amigos. Era, segundo as reportagens, uma vida regada a orgias e drogas, com direito a violência contra as mulheres que eram contratadas para participarem das noitadas e, também, com subornos e ameaças.

Por outro lado, a vida desse rapaz foi marcada pela falta da estrutura familiar. Nunca teve, de fato, uma família. A mãe foi embora, muito cedo, de casa para morar com uma companheira. Seu irmão já havia se envolvido com assaltos a mão armada e é acusado de estuprar e manter em cárcere privado, a sua namorada. Ele, Bruno, muito cedo, passou a ser a própria referência de certo e de errado. A sua visão de mundo e o seu conceito de valores morais, em grande parte, foram alicerçados pela quantidade de dinheiro que ele ganhava; seu rol de amizades era, até agora, de pessoas que parasitavam, vivendo às suas custas. Isso lhe dava uma falsa autoridade, um império absoluto, pois a sua palavra era lei e estava, consequentemente, acima do bem e do mal. Ninguém o desrespeitava, nem o contradizia. Acredito eu que, na cabeça dele, qualquer coisa que ele dissesse ou fizesse, tudo era subjugado pelo status que ele ostentava e pelo dinheiro que ele tinha para poder pagar pelo que fazia de amoral.

Acredito que essa fama, adquirida junto a aqueles aos quais ele sustentava, fez com que ele se deixasse embriagar pelo sucesso efêmero de ser ídolo no clube de futebol mais popular do país. Em minha opinião, o empregador tinha (e tem) a obrigação de dar toda uma construção psicológica para esses jovens que saem do nada e, de repente, passam a ganhar rios de dinheiro e a serem referências para o país inteiro, sem que eles próprios tenham a dimensão do que, de fato, representa essa exposição. O empregador tem, também - ainda em minha opinião -, o dever de proporcionar a esses jovens, uma equipe para assessorá-los na condução de suas receitas, orientando-os como investir e desfrutar do conforto que tais fortunas proporcionam.

Na verdade, o que me espanta é saber que essa exposição, tudo isso a que o público está tendo acesso, já era, de certa forma, de conhecimento de uma boa parte da própria imprensa, dos diretores do clube onde ele era profissional e, principalmente, da comunidade onde ele tinha seus imóveis – pois viam e ouviam o que se passava por lá –, enfim, o que os jornais, a mídia televisiva estampavam como notícia se transformava, na verdade, numa espécie de bônus, de ibope para o atleta, pois não era punido e, muito menos, era trabalhado, por profissionais da área e do seu vínculo empregatício, o lado que realmente deveria ser trabalhado: as suas ações ético-sociais.

Em contrapartida, a pobre moça também é vítima, de certa forma, dessa falta de estrutura. Foi abandonada, quando pequena, pela mãe, cresceu numa família onde o pai está sendo processado como estuprador da própria filha, na época, uma menor de dez anos – filha dele com a ex-cunhada. Eliza, para sobreviver, se viu obrigada a enveredar pela carreira de atriz de filmes pornôs, além de ter relacionamentos com vários jogadores de futebol.

O que fica dessa história é – mas não precisaria ser assim –, uma lição para que tomemos mais cuidado com os outros jovens que estão em exposição e que, como o goleiro Bruno, estão sendo cortejados pela fama, pelo dinheiro, pelo glamour, pelas festas com mulheres bonitas, pelas drogas...

Como disse antes, no meu pensar laico, é que, dos nomes citados nesta crônica-comentário, talvez os motivos que os levaram a cometer esses atos perversos tenham sido diferentes uns dos outros, mas, em todos eles, uma coisa ficou evidente, não mudou: a frieza de seus comportamentos diante dos fatos apresentados.

 



Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 18/07/2010
Reeditado em 07/04/2012
Código do texto: T2384571
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